Alguns elevam o tom de voz, outros gritam e há aqueles que assumem um personagem próprio, mas ainda assim existe - ou deveria existir sempre - juízo ao abrir a boca. Um programa de televisão não é uma mesa de bar ou uma estação de metrô.

Você, nos copos, entre amigos, poder dizer tranquilamente que a seleção portuguesa é convocada exclusivamente de acordo com as decisões empresariais de Jorge Mendes. Ou, sei lá, que o Sporting é perseguido propositadamente pela Federação Portuguesa de Futebol.

Pode também falar, por exemplo, que a equipe que entra em campo é escolhida previamente por Cristiano Ronaldo. As inúmeras teorias conspiratórias, muitas delas bizarras, fazem parte do nosso cotidiano. São engraçadas e tudo mais. Porém, não diante das câmaras. Nunca.

Ali, perante o olhar de milhões e milhões de portugueses, é preciso ter profissionalismo. Seriedade. Consciência. Resumindo: é preciso ter responsabilidade, especialmente quando um comentador também é (primeiramente) jornalista.

Contra fatos não há argumentos, é verdade. Mas os mesmos fatos necessitam, acima de tudo, de provas. Ou vocês acham que é fácil obter documentos, vídeos, fotos, áudios ou testemunhos para subscrever as diversas teses e suposições que andam por aí?

O trabalho jornalístico é exatamente esse: confrontar, apurar, investigar e... comprovar. Sim, devemos levantar publicamente algumas questões, mostrar números e gerar discussões. Entretanto, qualquer acusação sem prova é pura e simplesmente leviana e antiética.

Sou o primeiro a contestar as desculpas esfarrapadas, seja no bar ou na televisão. Também acho ridículo Pedro Gonçalves não ter sido convocado para o Euro. Prefiro hoje Francisco Trincão a Pedro Neto. Por que Rui Patrício, que não joga na Roma, não deu lugar ao surpreendente Ricardo Velho?

Enquanto não existirem provas cabais (e minimamente alcançáveis) para sustentar aquilo que é dito em conversas informais, prefiro reforçar que os selecionadores quase sempre vão chamar seus favoritos. É assim em todos os lados. Desde que o futebol é futebol. É bem discutível. Mas também é legítimo.

Na existência de uma clara e notória discórdia numa convocatória, opto então pela expressão "é um absurdo". Às vezes, para variar, uso a palavra "inconcebível". Deixo para vocês, em casa, e sem necessidade de responsabilidade, toda e qualquer incriminação.

*Bruno Andrade escreve a sua opinião em Português do Brasil