Nem nos melhores sonhos Quaresma terá vivido uma situação tão feliz como a que a realidade lhe está a devolver neste regresso ao FC Porto. Votado ao esquecimento na península arábica, o extremo já fazia parte do passado, era um daqueles talentos incompreendidos, que tinha tudo para vencer, mas que se tinha perdido em opções erradas e oportunidades desperdiçadas. Aos 30 anos, Quaresma já não convencia ninguém, mas nunca deixou de ter a presunção da genialidade. Sabemos agora que para além de convencido, ele continua mágico.

Nesta segunda vida no futebol precisou de apenas 16 jogos para convencer todos os observadores atentos que ainda tem muito para dar ao FC Porto e ao país. Marca mais golos do que nunca (em três meses foram oito e nas suas duas melhores épocas atingiu os 11), está mais responsável e altruísta. É respeitado pelos colegas, erra menos, faz menos fintas, menos trivelas, mas acerta quase sempre. E é decisivo, absolutamente decisivo, como demonstrou na vitória para a história conseguida pelos dragões em Nápoles.

Há quinze dias escrevia neste espaço que os dragões precisavam regressar ao básico e «fazer das tripas coração». Aquilo que se viu no jogo do San Paolo foi basicamente isso: Luís Casto não inventou, até teve de recorrer a segundas escolhas, mas soube mexer na equipa no momento certo (Ghilas mais cedo, tão óbvio) e ainda teve direito àquela ponta de sorte que protege os audazes. Este foi um Porto à Porto, com a garra e vontade que o caracterizam, sem medo e com vontade de vencer. A equipa de Paulo Fonseca era outra coisa e já é passado.

Para Quaresma foi uma espécie de epifania. Mal amado em Itália, devido à sua passagem sem brilho pelo Inter Milão, curiosamente nunca tinha jogado no estádio do Nápoles. Não pisava um relvado italiano há quatro anos (Fiorentina, a 10 de março de 2010), e o único golo que tinha marcado no país da bota foi na sua estreia, contra o Catania. De trivela, claro. Naquela altura Mourinho ainda pensava que o conseguia domar.



No FC Porto já ninguém tem dúvidas que a aposta de risco foi devidamente recompensada, mas falta saber se Paulo Bento já tomou alguma decisão em relação à integração de Quaresma nos 23 para o Brasil. Não restam muitas dúvidas de que é um dos extremos portugueses em melhor forma e seria difícil de entender a sua ausência. O último jogo do portista pela Seleção foi a 2 de junho de 2012, na pesada derrota com a Turquia.

A redenção do mágico Quaresma despertou reação imediata das redes sociais e de todo o mundo surgiram comentários de espanto. Muitos não sabiam que ele tinha regressado em grande e outros lamentam que tenha desperdiçado tanto tempo pelo caminho. Mas valeu a pena esperar para ver o golo de Nápoles que vingou todos os desaires sofridos com as equipas de Rafa Benitez. Esta até os benfiquistas devem ter gostado.