Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol. 

Até 2006/07, há dez anos, o Benfica tinha 12 derrotas na Luz nas provas europeias. Doze desde 26 de setembro de 1957, o dia da estreia com o Sevilha.

E tinha mais uma no Bessa com a Lazio, em casa emprestada para uma pré-eliminatória em 2003/04.

Portanto, a jogar em casa, 13 derrotas na UEFA.

Ganhar ao Benfica, em solo português, não foi fácil nas primeiras 48 épocas do clube numas competições continentais que mudaram durante os anos.

Apesar de ainda ter denominação de Taça dos Campeões Europeus, a Champions alterou o formato em 1991/92. Já nessa temporada havia fase de grupos a duas voltas.

A Liga Europa mudou para um modelo do género em 2004/05 e copiou a prova principal a partir de 2009/10. Jogos cá e lá.

É justo fazer a distinção quer do modelo, quer dos anos.

Porque o Benfica foi uma coisa até aos primeiros anos da década de 90 e foi outra coisa qualquer desde que Toni venceu o campeonato em 1993/94. Foi essa coisa qualquer até ao ponto de inversão. Que para uns é a Taça de Portugal com Camacho, para outros o campeonato com Trapattoni. Mas definitivamente já não era essa coisa qualquer aquando do primeiro título de Jorge Jesus.

A Champions e a Taça UEFA também foram um género de provas até 1991/92 e 2004/05 e outras a partir dessas datas. O que explica alguma coisa do porquê de o Benfica, nos últimos dez anos, ter as mesmas 13 derrotas europeias na Luz do que no resto da história do futebol do clube.

Aquele período negro seguido doutro de convalescença explicam como Getafe e Metalist Kharkiv surgem ao lado de Manchester United ou Liverpool numa lista de vencedores estrangeiros alargada quer pelo tempo, quer pelo formato das competições.

Ainda assim, vale a pena refletir sobre quem conseguiu bater o Benfica na Luz nas diferentes fases da história.

Até ao início do tal período negro (1994/95), só mesmo os grandes: Manchester United, Ajax, PSV, Liverpool (2) e Roma. Quatro campeões europeus e os romanos, finalistas vencidos na Taça UEFA dessa temporada de 1990/91.

Durante o período das trevas encarnadas, ganharam no Estádio da Luz: Bayern Munique, Fiorentina, Dínamo Bucareste e PAOK.

Um colosso, uma das melhores equipas italianas da segunda metade dos anos 90 com Rui Costa e Batistuta… e os outros dois, cicatriz do que o Benfica vivia na altura.

No período de recobro, também ganharam Villarreal, Shakhtar Donetsk, Getafe, Galatasaray e Metalist Kharkiv. E a Lazio, no Bessa.

No mesmo ano em que a águia voltou a uma meia-final europeia, venceu na Luz o Schalke. Depois o Chelsea, o Barcelona, o Zenit e o Atlético Madrid. Tudo equipas com troféus UEFA. Na época passada, venceu o Nápoles.

Nesta, CSKA Moscovo, Manchester United e Basileia.

Ora, se Getafe e Metalist Kharkiv venceram na luz num período ainda instável do Benfica, Dínamo Bucareste e PAOK fizeram-no quando os encarnados eram um clube que, por assim dizer, «não tinha onde cair morto». Uma ideia que até Luís Filipe Vieira, atual presidente, concordará de tanto repeti-la.

Ainda que longe da Luz, o que se seguiu a Dínamo e PAOK foi pior. Bem pior. Chamou-se Vigo. É um ponto tão negro que de tão negro que é se consegue distinguir no meio da escuridão que é essa parte da história das águias.  

Já o Basileia venceu na Luz em 2017.

Venceu um Benfica que não atravessa nenhum período negro ou está convalescente. Pelo contrário, venceu um Benfica tetracampeão português, um Benfica que nos últimos anos esteve em finais, meias-finais e quartos de finais na UEFA.

Um Benfica que foi atirado para fora da Europa em 2014/15 também. Mas não o foi assim.

Um Benfica que diz que pretende internacionalizar a marca, mas que, nesta época, desperdiçou o melhor cartão de visita que tem: os resultados na Champions.

O Basileia fez da águia uma das 20 equipas que terminaram com zero pontos numa fase de grupos da Champions: a pior prestação portuguesa de sempre.

As vitórias do Benfica na Taça/Liga dos Campeões Europeus deixavam apenas Real Madrid, Bayern Munique, Barcelona, Manchester United, Juventus e Milan à frente das águias.

Essas mesmas vitórias, e empates, redundaram em pontos que colocavam o clube acima de Liverpool, Arsenal, Ajax ou Inter de Milão no ranking histórico. E ainda acima do FC Porto, que igualou em 2003/04 o número de troféus dos encarnados na prova e pode passar-lhe para a frente naqueles resultados individuais nesta época.

Historicamente, o Benfica, e o FC Porto, evidentemente, acompanham-se de ilustre gente.

Em 2017/18, o Basileia colocou o nome do clube da Luz ao lado de outros como Zilina, Debreceni ou Otelul Galati.

Vigo foi um jogo, 2017/18 uma época inteira.

Quando se olhar para o quadro negro do Benfica na Europa, Balaídos e 2017/18 distinguir-se-ão da mesma maneira. Mesmo que o primeiro tenha acontecido quando não havia dinheiro para nada e o segundo quando alguém decidiu não haver.

As consequências desportivas e de marca estão aí, à vista de todos. As financeiras em novembro de 2018. Quando sair o Relatório e Contas do exercício 2017/18, no qual faltarão muitos milhões de receita europeia. 

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter