Diz muito sobre nós, como (atrasada) sociedade, quando o adiamento de um jogo de futebol tem muito mais repercussão e gera maior revolta do que outros gravíssimos acontecimentos que decorreram no mesmo dia, praticamente em simultâneo.

Sim, o Sporting foi prejudicado, mas o que dizer sobre a Democracia ter sido colocada em risco em rede nacional, com a maior naturalidade do mundo, pelo presidente do Sindicato Nacional da Polícia? Uma chantagem hoje, talvez um golpe de Estado no dia 10 de março.

De um lado, baixas e mais baixas médicas fraudulentas por parte de policiais que, segundo a Constituição, não podem promover greves. Do outro, um silêncio ensurdecedor por parte do Governo. No resumo da obra (macabra), uma conivência que não tarda a custar vidas.

Enquanto isso, um covarde e (ainda mais atrasado) grupo de extrema-direita andou tranquilamente pelas ruas de Lisboa com tochas, saudações nazis e gritos de "Salazar". Em pleno 2024. Um misto cruel de xenofobia, racismo e islamofobia, tudo isso com direito a... escolta policial.

Não menos importante, mais um ato de selvageria entre "adeptos", desta vez em Famalicão. Garrafas e mesas atiradas a troco de absolutamente nada e, consequentemente, pessoas feridas, com uma delas em estado grave. Por causa de uma "mísera" partida de futebol.

Estamos do avesso, e sabemos disso. Pouco ou nada fazemos. Não vai ser nada fácil para o Sporting encontrar um nova data na agenda para defrontar o Famalicão, mas, convenhamos, é muito mais difícil e repugnante a convivência com a brutalidade de tamanho retrocesso do ser humano.

*Bruno Andrade escreve a sua opinião em Português do Brasil