«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.
«Conciliar e não abdicar. É aquilo que Nuno procura, uma vez mais. Aproveitar o impacto de Tiquinho Soares sem esquecer a importância de André Silva. Ter esta dupla sem arriscar o equilíbrio, sem reduzir a força no corredor central. O ponto de partida é diferente, a finalidade é a mesma. O jogo com o Nacional deixou indicadores positivos, sobretudo ao nível da mobilidade que a equipa apresentou, mas por mais ligeira que seja a mutação tática, precisa ser afinada. Para que a imprevisibilidade não dê lugar à confusão.»
Ao abordar a aposta de Nuno Espírito Santo num 4x3x3 “desdobrável” em 4x4x2, conciliando três médios sem abdicar dos dois avançados, o texto de 7 de março registava os sinais positivos deixados na goleada ao Nacional (7-0), mas realçava também a necessidade de afinar a mudança, e de forma célere, já que a temporada estava a entrar na fase decisiva.
Nuno repetiu logo a fórmula em Arouca e Turim, e agora com Belenenses e Sp. Braga, mas na visita à «Pedreira» o FC Porto só entrou verdadeiramente no jogo a partir do minuto 55, quando a presença de Corona passou a equipa para 4x4x2.
Até então o FC Porto foi o oposto daquilo que Nuno pretenderia. Uma equipa muito previsível ofensivamente, com pouca dinâmica, praticamente entregue à criatividade de Brahimi.
Assim que começava a trocar a bola à retaguarda, o FC Porto já tinha as três unidades mais ofensivas em zonas interiores, para que os laterais pudessem subir pelo corredor. Sem dinâmica, sem trocas posicionais, a facilitar o encaixe a quem defendia.
Na diferença entre estar ou aparecer, o FC Porto tornou-se presa fácil no primeiro tempo. Só Brahimi procurava criar desequilíbrios no corredor central, mas incitado a aparecer cedo de mais, o que ajudava a defensiva bracarense a manter as referências posicionais.
Constantemente inseguro relativamente aos terrenos que pisava, André Silva raramente tentou dar linhas de passe nas costas dos médios adversários, procurando insistentemente o espaço entre lateral e central.
A condicionar a capacidade ofensiva do FC Porto esteve também (e uma vez mais), a escassa ponderação da primeira fase de construção, que recorreu abundantemente a passes longos para o ataque. Raras foram as ocasiões em que a bola passou mais do que uma vez pelo mesmo central, em construção. Quando entrava em Marcano ou Felipe (sobretudo este último), havia logo a tendência para querer dar um passo em frente, mesmo quando não existiam condições para tal. Mesmo quando a única linha de passe era o lateral, e com o adversário à espera disso para o encurralar.
Ainda que tenha sido à custa de Óliver Torres, o melhor "pensador" da equipa, a entrada de Jesús Corona, ao minuto 55, "ressuscitou" o FC Porto no plano ofensivo.
O mexicano deu largura ao ataque portista, e ao mesmo tempo sagaz a explorar zonas interiores. Entre lateral e central, entre a linha defensiva e a intermédia do Sp. Braga. A obrigar o adversário a reajustes constantes na sua organização defensiva, a provocar arrastamentos, a criar espaços.
O FC Porto não passou do 8 para o 80, mas mostrou outra faceta quando juntou a criatividade de Brahimi a Corona, num aliança surpreendentemente desfeita por Nuno antes do apito final.