«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.

Sérgio Conceição reconheceu que tem mau perder, mas nem precisava de o fazer. Longe de ser um episódio isolado, a reação à derrota na final da Taça da Liga encaixa no perfil impulsivo que já o caracterizava enquanto jogador.

Ainda que sejam pertinentes as críticas à organização da prova, assim como ao comportamento de alguns adeptos do Sporting que revelaram «mau ganhar», o FC Porto não esteve à altura da sua dimensão institucional em Braga.

Claro que a responsabilidade não se esgota em Sérgio Conceição – que os dirigentes não estão no banco apenas para fazer substituições e protestar decisões do árbitro -, mas o treinador do FC Porto sabe perfeitamente o papel que tem.

Ouvi-lo dizer que foi contratado para ter mau perder é um exagero que não retira importância ao que se passou no sábado, mas que, salvaguardados os devidos limites, ajuda também a perceber os resultados que o técnico tem alcançado.

Sem qualquer menosprezo pela preparação técnico-tática - pois ninguém conquista um título a 34 jornadas sem méritos nestas áreas -, a maior virtude de Sérgio Conceição está na capacidade de liderança. O ascendente que tem sobre o grupo de trabalho, e uma exigência que começa nele próprio.

Por isso é tão raro ver o dragão escorregar duas vezes seguidas. Raramente dá abébias, seja na Luz ou em Vila Real, para a Taça. Pode até não ganhar, mas dificilmente haverá algo a apontar à postura. Não há lugar para a sobranceria, que os jogos são todos encarados com a mesma ambição. Sem pudor em valorizar os pontos fortes dos adversários, mas nunca prescindindo de uma identidade simultaneamente modesta e confiante.

O FC Porto de Sérgio Conceição dispensa o rótulo de equipa romântica ou espetacular. Acima disso está a sede de vencer, e para tal foi assumido um estilo pragmático, que procura rapidamente chegar ao último terço, que vive muito dos duelos individuais.

Há quem tenha dez alternativas para chegar ao destino e não conheça nenhuma ao detalhe. O FC Porto pode só ter uma ou duas, mas sabe de cor todas as virtudes e defeitos do caminho.

O mau perder é dispensável, mas a autoexigência é que fez de Sérgio Conceição o treinador certo no lugar certo.