«Há 6 anos começou a minha aventura no futebol profissional. Tem sido uma experiência maravilhosa com altos e baixos mas permitiu-me crescer como profissional e como pessoa. Estou agradecido a todos que me permitiram chegar a este nível, de jogadores a staff e presentes que acreditaram no meu trabalho. 6 anos/6 títulos. Obrigado!»

André Villas-Boas assinalou esta semana o sexto aniversário da sua carreira como treinador principal. Tem apenas 37 anos. Na curta mensagem divulgada através das redes sociais ganham relevância os títulos conquistados em igual número de anos: 6.

O que isto nos diz? Que o treinador português levantou troféus em apenas dois clubes, FC Porto e Zenit S. Peterbursgo, dos cinco que orientou neste curto espaço de tempo.

Aos quatro títulos numa época inesquecível no Dragão (Supertaça de Portugal, Liga Portuguesa, Taça de Portugal e Liga Europa) somam-se dois a Leste (Liga Russa e Supertaça da Rússia).

A despedida anunciada do Zenit S. Petersburgo e a efeméride desta semana abrem espaço para um balanço sustentado da carreira do técnico e a projeção do que se seguirá para André Villas-Boas.

O balanço, antes de mais. Promissor na Académica, fenomenal no FC Porto, insuficiente no Chelsea, injustiçado no Tottenham e apenas bom no Zenit.

Em suma, Villas-Boas não conseguiu acompanhar a fasquia que colocou a uma altura vertiginosa de forma precoce. Esta conclusão lógica torna-se insuficiente para catalogar o treinador como uma desilusão, longe disso.

6 years ago today my adventure in professional football started. It has been a wonderful experience with highs and lows...

Posted by André Villas Boas on  Quarta-feira, 14 de Outubro de 2015


O antigo membro da equipa técnica de José Mourinho (imagem que não conseguiu afastar na passagem pela Premier League) falhou essencialmente na transição abrupta para o Chelsea. Foi um passo em falso, sem base de sustentação e com falsas promessas, como admitiu recentemente em entrevista ao Maisfutebol e à TVI.

Nessa longa entrevista, André Villas-Boas não escondeu o seu desencanto e desinteresse em voltar a cenários de «mediatismo alto».

Para além da curta experiência no Chelsea, o treinador português ficou especialmente marcado pelo adeus ao Tottenham, onde havia garantido o melhor rendimento desde que o clube chegou ao escalão principal, em 1909.

O exílio na Rússia, longe de uma pressão mediática que não avalia somente resultados desportivos, surgiu como opção natural para um homem que preferiu abdicar desse processo de afirmação nos maiores palcos para encontrar uma solução equilibrada.

Não vejo em Villas-Boas a sede de protagonismo e impacto de José Mourinho ou Jorge Jesus, por exemplo.

Estes vivem para o futebol, alimentam-se do jogo, colocam-no à frente de tudo o resto, passam dias e noites a idealizar o próximo passo, a preparar um desafio, numa nova frente de batalha. E desgastam-se pelo caminho.

Parece-me que André não vive para. Vive do futebol. Tem um perfil diferente, aberto a outros interesses, com vontade de ter tempo para a família e demais paixões. Não é defeito. Acredito que o sucesso pode ser igualmente alcançado dessa forma, sem que o sujeito se deixe consumir pelo objeto do seu desejo.

Também por isso, vai ganhando força a probabilidade de um regresso a Portugal, já assumido pelo técnico, por «circunstâncias familiares». Os sinais são claros. E como admitiu na entrevista ao Maisfutebol e à TVI, o FC Porto e a Académica são os dois únicos clubes onde se sentiria confortável a treinar.

Seja na próxima temporada ou a breve, não me restam grandes dúvidas que Villas-Boas regressará ao que um dia garantiu ser a sua cadeira de sonho. 

Creio que André Villas-Boas voltará a ser treinador do FC Porto. Resta saber quando.

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)