Fernando Gomes chegou à comissão executiva da FIFA.

Chegou lá praticamente 20 anos depois de Marc Batta ter expulsado Rui Costa. E não há outra maneira de considerar aquilo que o árbitro francês fez: uma filha da mãezice.

Por muitas explicações que o juiz gaulês dê, correrá sempre o risco de ser convidado a sair do táxi de um português em Paris, como contou há uns anos o DN.

Fernando Gomes chegou ao órgão máximo da FIFA no ano em que se celebraram 20 sobre o famoso episódio de Rui Costa na Alemanha. Um caso surreal. Único, a meu ver.

«Ver», usado aqui com o propósito de explicar que a unicidade do episódio Batta se refere àqueles que, lá está, vi. E vi vários. Muitos. Alguns? O de Abel Xavier, o de Ricardo Carvalho, o do fora de jogo de David Villa. Se quiserem chamar Platini ou a Gazprom ao barulho também podem. Estes casos, como os restantes, sempre serviram para as mais elaboradas teorias da conspiração que encaixaram em três palavras. As três, juntas, formaram um lamento nacional que traz uma acusação implícita: «Somos muito pequeninos.» O que, necessariamente, fazia de alguém muito grande e poderoso.

O futebol português que nunca teve força para nada, mesmo que na década de 60 tenha produzido o segundo campeão europeu da modalidade.

O futebol português que nessa mesma década venceu uma Taça das Taças e que chegou ao terceiro lugar do Campeonato do Mundo. Ah, pelos vistos, nesse também fomos «muito pequeninos». Só não sei se já éramos ou se foi aí que começámos a ser.

Mas sei disto. Que vencemos provas europeias em quase todas as décadas (a exceção são os horríveis anos 70 e 90), que somos o quinto país com mais troféus de clubes na UEFA, que temos o melhor jogador para a FIFA e para a UEFA e que, caramba, até somos campeões europeus em título em seleções.

Fernando Gomes foi indicado pelo presidente da UEFA para integrar o comité executivo da FIFA.

Reparem bem nisto, por outras palavras: o futebol português tem o presidente da FPF no órgão máximo da FIFA.

Gomes está, portanto, onde se tomam grandes decisões. Aliás, não é novo, pois mesmo na UEFA já se percebia que o presidente da federação tinha lugar na mesa dos principais influenciadores do futebol. Por exemplo, as decisões sobre o formato da Liga dos Campeões passaram por ele.

Obviamente, não acho que Fernando Gomes deva tomar decisões sobre o futuro do futebol apenas e só a pensar no que é português, como ele. Embora reconheça, até por experiência de vida, que muitos dos meus concidadãos assim pensem e assim o critiquem se não o fizer.

Não sei como será a passagem de Fernando Gomes como membro do Board da FIFA. Mas sei que, pelo menos, posso decretar morto o «somos muito pequeninos».  

Qualquer estapafúrdia teoria da conspiração acaba aqui mesmo: no facto de haver pela primeira vez na História um compatriota no órgão mais alto do futebol do planeta. Batta sempre foi um caso isolado de todos os outros. Mas não teorizemos mais do que isto: foi uma filha da mãezice, pura e simples.

P.S.- Contraponham lá que alemães, ingleses, espanhóis, italianos e franceses (sabe quantos títulos venceram as equipas gaulesas na UEFA?) têm mais poder na Europa dos clubes do que nós. Até me atrevo a concordar que, aí sim, «somos muito pequeninos». Pois somos, cá dentro, mas na mentalidade, que é notoriamente estreita para se pensar num bem coletivo.