A meio daquela que tem tudo para ser a semana mais intrincada da história recente de Rui Vitória na liderança do Benfica, uma pequena lufada de ar fresco com o empate frente ao Astana. Está garantida, merecidamente, a presença na fase seguinte da Liga dos Campeões, depois de, valha a verdade, um início de tarde que chegou a roçar o catastrófico. Assim sendo, até com alguma surpresa tendo em conta o que se tem passado em território nacional, o bicampeão regressa a ambientes onde não estava desde 2011/12. E até pode bater o recorde pontual dessa campanha na fase de grupos, pois vencendo o Atlético Madrid somará 13 pontos, contra 12 de há quatro temporadas.

Ou seja: vai dando para a Champions, o que não deixa de ser surpreendente quando comparado com aquilo que a equipa tem conseguido a nível nacional. E está aí para memória futura o pedido/exigência de Luís Filipe Vieira no dia em que apresentou o sucessor do treinador que mais troféus conquistou com as cores benfiquistas: o grande objetivo é o tricampeonato. E se, em boa verdade, essa possibilidade não está descartada também se deve afirmar - sem qualquer medo das palavras e numa ideia assente no rendimento, não devendo isso ser entendido como qualquer falta de respeito pelo empenho colocado no quotidiano por todo o grupo de trabalho – que está mais complicada.

Aliás, para que não restem dúvidas relativamente ao meu posicionamento sobre determinadas matérias, tenho total respeito por Rui Vitória, como por todos os milhões de treinadores que se dedicam a esta profissão à face da Terra. Mas dentro desse respeito venha de lá o mais pintado afirmar, direta ou colateralmente, que não devo emitir opinião sobre o seu perfil. Rui Vitória é, de certeza, um grande técnico, será até «um mister fora de série» e que «nos deixa completamente à vontade», como afirmou recentemente Jardel ao jornal A Bola, mas tenho para mim que lhe faltam alguns itens para liderar o SLB. A começar pelas mensagens que transmite e que chegam ao balneário. Não ser comido de cebolada é conversa para clube da distrital. E sendo o objetivo encarnado a conquista do tricampeonato, se calhar o que jogadores e adeptos querem ouvir é que esta equipa pode render o triplo da época passada. Mas isso sabemos nós ser impossível.

Regressando ao momento presente do Benfica, depois de nova derrota frente ao Sporting, que fez regressar à ribalta um grande nome do futebol mundial, Rui Costa, e o responsável por toda a comunicação benfiquista, João Gabriel, o empate em Astana teve vários predicados. A equipa soube reagir a um começo desastroso e recuperou de uma desvantagem de dois golos; o ponto conquistado garantiu-lhe a continuidade na Champions; a atitude da equipa foi própria de quem já superou o desaire com os leões na Taça; e o jovem lançado às feras, Renato Sanches, confirmou aquilo que já se conhece dele, embora em mais uma enésima experiência se deva dizer que o treinador correu riscos desnecessários; Jiménez, finalmente, jogando como ponta de lança correspondeu em pleno marcando os dois golos, um deles – o de cabeça – excelente. Enfim, o Benfica ganhou ânimo para a deslocação, dificílima, a Braga, onde qualquer desfecho que não seja o triunfo a deixa longe, muito longe do tri.

Portanto, na globalidade a Liga dos Campeões tem sido o grande suporte benfiquista nesta época de transição - e mesmo assim o objetivo é o tri? - isso faz com que a nação benfiquista esteja um bocadinho mais tranquila, mas não sossegada em definitivo. O mais curioso é que o conjunto que já todos dávamos como certo na fase seguinte pode mesmo ficar pelo caminho. Malditos ucranianos que estragaram, bastante, a vida ao FC Porto...

Desde 1992/93, que foi quando mudou o formato da prova, os portistas passaram por 13 vezes a fase de grupos, pelo meio até conquistaram a sua segunda LC, e tudo apontava no sentido de que a 14.ª estava certa. Afinal…

Foi com surpresa que não vi os portistas somarem o tão desejado pontinho, num jogo muito mal conseguido por um grupo que nesta competição está sempre a um nível elevado. Julen Lopetegui, incompreensivelmente, deixou de fora a melhor unidade do presente portista, André André, e a equipa não contou com aquele Casillas que tem marcas fantásticas na competição. Sim, um frango acontece a qualquer um, mas neste jogo… era proibido.

PS1 – não faço a mínima ideia do que se vai passar esta noite na Liga Europa, mas acredito que o Sp. Braga vai confirmar a passagem à fase seguinte e que o Belenenses pode somar mais um triunfo. Já o Sporting, que não apresenta seguramente a melhor equipa, vamos ver se consegue continuar a alimentar o sonho da passagem, só possível com vitória.

PS2 – nunca morri de amores pelo dirigente Michel Platini e ao ver aquilo que se está a passar, em que se pede a sua irradiação do futebol por ter «metido a mão na massa», fico convencido que esse desejo vem ao encontro do que sempre me pareceu: ali havia algo que me levava a desconfiar.