Por muito que não quisesse, sou incapaz de passar ao lado do acontecimento televisivo dos últimos dias, a ter lugar na ressaca das eleições, que foi a presença do líder do Sporting no programa «Prolongamento» da TVI24.

Apenas porque, – e reconheço que havia múltiplos temas a merecerem a minha atenção, mesmo deixando de parte a peixeirada dos derradeiros 15/20 minutos – no meu entender, começou antes do previsto o dérbi de 25 deste mês. Ou será que estamos somente no intervalo de um montão de azedas palavras, agora, de Alvalade para a Luz?

Bruno de Carvalho sente grande incómodo quando veem nele semelhanças com a Madre Teresa de Calcutá. Prefere, é esse o meu entendimento, sentir-se guerrilheiro a tempo inteiro, disparando indiscriminadamente, tenha ou não razão. Neste prolongamento da sua forma de liderar o Sporting teve alguns tiros certeiros e também conseguiu desviar-se com mestria de algumas setas impregnadas de veneno. Mas deixou claro que não está no seu ADN qualquer tipo de coabitação com o Benfica, não lhe interessando, sequer, se o futuro saudável, particularmente no plano financeiro, desta indústria que tanto defende (e apresenta as suas soluções, como se sabe) passa por entendimentos, sejam eles quais forem, com os encarnados.

Posso estar enganado, mas o agudizar do posicionamento relativamente ao Benfica e, muito particularmente a Luís Filipe Vieira, tem a ver, acho, com três questões: o apoio a Luís Duque na Liga, liderado pelos benfiquistas e que os leões não aceitaram - o mesmo se pode dizer, em sentido contrário, com o que se passou com Pedro Proença (duas decisões com patrocínio do FC Porto, por muito curioso que isso seja …); os roubos de Mitroglou e Cervi à nação leonina; por fim, a desconfiança existente em Bruno de Carvalho de que Carrillo pode ser reforço encarnado.

Também podem ser aduzidos outros argumentos, como aquele da história das lembranças aos árbitros - como se o Sporting, apesar das muitas razões de queixa, não faça coisas parecidas… mas sem refeições a pagar. Assim sendo, o dérbi começou muito mais cedo do que se podia prever, mas não da melhor maneira, porque há palavras que, levadas à letra, muitas vezes trazem amargos de boca.

E mesmo que possamos estar no intervalo de relações que cada vez se extremam mais, uma questão deve ser por mim valorizada: o facto de o Benfica (ou Vieira) não ter retorquido, fosse como fosse, à metralha de alguém que não quer nada com a Madre Teresa de Calcutá.

Sinal de duas coisas parece-me. Uma, que se chegue a esse jogo de dia 25 com a máxima tranquilidade possível, pois esse é o jogo por que tanta gente suspira e o melhor é deixar estar as coisas como estão, já que o tempo ajuda a esfriar situações demasiado quentes. Outra, esperarem os encarnados pelo desfecho desse confronto para ver como podem reagir – uma vitória facilita tudo, e permite até mesmo incluir Jorge Jesus no acerto de palavras. Qualquer outro resultado deixará o líder leonino convencido de que o que disse fez efeito.

PS1 – depois de tudo o que se passou, já não tenho grandes dúvidas de que a Seleção Nacional avança para a fase final do Euro-2016 como vencedora do seu Grupo; estou até convencido, aliás, de que o jogo na Sérvia será apenas para cumprir calendário.

PS2 – José Mourinho tem defeitos e virtudes. O que mais lamento é que só olhem para aquilo que faz quando passa por momentos complicados na carreira, como é aquele que vive atualmente. Mas esta é também a única forma de voltarmos a ter de viver com as baboseiras de um dos seus arqui-inimigos, o antigo grande futebolista Johann Cruijff.