Luís é benfiquista. Paulo sofre pelo Sporting. São dois empresários de sucesso na zona onde resido e desde há um par de anos que fazem parte de uma boa fatia do meu quotidiano. «Porquê?», pode perguntar o leitor mais interessado; simplesmente porque são rivais sadios e falam de futebol com boa disposição. Sem reservas, azedumes ou picos de ódio, coisa que, infelizmente, rareia no presente.

Ambos, naturalmente, acreditam que o emblema que os faz emitir opiniões que deixam outros pares de boca aberta lhes dará, daqui por quatro jornadas, imensa alegria. E não lhes passa pela cabeça que não farão a festa no Marquês de Pombal. Porém, Luís, com o otimismo próprio de quem olha para a classificação e vê o seu clube na liderança já sentenciou: «Ganhando em Vila do Conde já ninguém nos tira o tri. Acho, até, que vamos encher Lisboa do Marquês ao Terreiro do Paço.»

Sem perder a compostura, Paulo tem ouvido continuadamente a conversa do amigo mas não desiste no propósito de ver os leões chegarem ao tão desejado título: «Até haver hipótese não me dou por vencido. Bruno de Carvalho merece pelo que tem feito. Mas se o Benfica voltar a ser campeão acho que vou ter de meter férias, pois não será fácil ouvir tanta provocação.»

É com base nestas conversas elevadas que se deve olhar para o que está a acontecer na Liga lusa, começando por se salientar o facto de os dois grandes de Lisboa, quando já falta tão pouco, continuarem ombro a ombro à procura da felicidade, cada um à espera que o outro escorregue, como podia perfeitamente ter acontecido na última jornada.

Sim, ninguém me tira da cabeça, mesmo sem linhas virtuais – simpatizo bastante com o Moreirense, particularmente pelo trabalho que tem feito e ao que sei por não ter dívidas, mas sem condições é difícil, nos dias de hoje, «dar tudo» de um jogo -, que Slimani fez o único golo para lá das marcas, situação que tem dado pano para mangas e contínuos remoques da Luz para Alvalade e vice-versa. Mas que dizer, também, do que se passou na Luz?

Arnold - e bem - já veio a terreiro pedir respeito, ele que é, desculpem-me a expressão, um pobrezinho no meio de glutões, só porque não conseguiu levar a melhor sobre Ederson. Sim, este congolês de Kinshasa, de apenas 24 anos, que começou no Rebordosa, passou por Limianos e Chaves até chegar a Setúbal, podia ter entrado na história desta Liga se tem marcado ao Benfica, e dado a ajuda pela qual o Sporting tanto suspira. Mas lá por não ter conseguido deve ser crucificado e insultado? Se fosse um Jonas, um Slimani ou mesmo um Aboubakar o que se diria?

E já agora vejamos as coisas por outro prisma. Imagine-se que Arnold tinha mesmo conseguido fazer o 2-2; em que estado ficaria Pizzi, craque do Benfica, internacional por Portugal, figura desta Liga, normalmente nas bocas do mundo e que fez o passe errado para o congolês? Não defendo nem ataco um ou outro, mas tenho a certeza que o benfiquista ao mesmo tempo que pediu desculpa deve ter sentido um alívio semelhante à alegria que por estes dias terá, quando for pai.

Em suma, por muito que se diga e faça, por mais insultos ou disparates, o futebol será sempre feito de coisas assim, doa a quem doer. E é por isso, em boa verdade, que carrego baterias quando me sento à mesa e consigo cavaquear com os meus amigos Luís e Paulo, porque eles são dois adeptos à antiga. Que se respeitam e sabem o qual é o significado da palavra rivalidade.

PS1 – Pinto da Costa vai ficar mais quatro anos a liderar o FC Porto. Mais do que pretende relançar no clube, o importante é que dirá o futuro relativamente à SAD, a verdadeira mola real do grande clube português e mundial. PC até pode querer Jorge Jesus, até pode estar na disposição de indemnizar o Sporting, até pode quer refazer a equipa de futebol, mas a pergunta é esta: há dinheiro para isso tudo? Só mais uma coisa: respeitando as posições, parece-me que o dr. Angelino Ferreira se devia ter lamentado num outro tempo.

PS2 – Não faziam parte da minha lista de 23 para o Europeu, mas ver ficar de fora Fábio Coentrão e Danny devido a graves lesões não me deixa mesmo nada satisfeito. Admito que Fernando Santos tem as melhores soluções no bolso, mas também não coloco de lado a possibilidade de ambos terem estado na lista final do selecionador. Eu, mesmo estando os dois bem, não os levava, mas a decisão final seria sempre da responsabilidade do engenheiro…