Para sossego dos treinadores, particularmente os dos principais clubes, está encerrado o mercado de transferências, situação que prefigura, se assim se pode afirmar, quatro meses de relativa tranquilidade. Ou de desassossego. Mas, também de valorização de alguns ativos desde há muito controlados por tubarões insaciáveis, quem têm sempre dinheiro fresco pronto a investir. Há até quem lhe aplique uma palavra que tantas vezes nos entra casa dentro em filmes vindos dos states e que tem por ingredientes principais água e sabão…

E porque o mercado está encerrado e ainda (ou já só?) faltam quatro meses para que volte a reabrir, que se pode dizer do que se viveu, objetivamente, nos últimos 60 dias? Não foi apenas fumaça, mas janeiro promete animação, eventualmente até mais quente do que se passou agora.

Apesar do muito alarido que se verificou, em boa verdade o Benfica só perdeu dois jogadores capitais - Maxi Pereira e Lima - aos quais se deve juntar o fundamental Salvio, com mais uma lesão de longa duração. Mas o rombo ficou-se por aí e até contratou gente que nem aqueceu o lugar, como Marçal ou Diego Lopes, e tem dois belos embrulhos em mãos, os marroquinos Taarabt e Carcela.

Já o FC Porto vendeu que se fartou mas também contratou, ficando a haver (se fosse mesmo assim o clube não teria o prejuízo que se conhece...) qualquer coisa como 70 milhões de euros. Julen Lopetegui tem, como já se percebeu, a espinhosa tarefa de fazer uma equipa quase de raiz - e continuando a jogar como até agora, a exemplo dos outros dois rivais, ninguém pode garantir que não possa haver bernarda.

Finalmente o Sporting, o muito económico Sporting, seguramente quem contratou com mais critério, pois dos sete reforços quatro são titulares – João Pereira, Naldo, Brian Ruiz e Teo Gutierrez - e há mais um que espreita a entrada em definitivo no onze, Aquilani. Vamos ver se Ricardo Esgaio, que está de volta ao clube, não ficará com o posto de Pereira.

Uma palavra, ainda, para os dois rivais do Minho, particularmente para o Sp. Braga que não se encolheu nas vendas, foi firme nas contratações e deixa a Paulo Fonseca a missão de fazer, como no FC Porto, uma equipa nova. Já o vizinho vimaranense embolsou uma verba razoável (uns cobres acima dos 10 milhões de euros), mas foi obrigado a deixar sair um dos mais excitantes jogadores que estava na Liga: Bernard.

E agora, depois de tantas saídas e entradas, o que é que pode acontecer daqui a quatro meses? Muita coisa, com os dois grandes de Lisboa expostos mais uma vez e ainda mais do que agora. Porque Gaitán, apesar do milionário salário que o Benfica se prepara para lhe oferecer, é sempre um fruto apetecível e se Jorge Mendes não foi capaz de o colocar na rota de Espanha e Inglaterra é bem capaz de o fazer no início de 2016 – sim, quem fez os negócios que eles fez com aqueles meninos da formação encarnada não é capaz de tratar do futuro da principal figura da Luz?
Em Alvalade, por outro lado, a situação é bem mais complexa, pois se William é «fera» para estar sempre perto da porta de saída, por força da sua categoria, há a inesgotável novela que tem Carrillo por protagonista. E se não renovar até Janeiro já se sabe o que acontecerá: é livre de decidir o destino (podem outros andar por aí a garantir agora que o seu destino é o FC Porto mas a notícia já tem barbas…) e o leão fica com as orelhas em chaga.

PS: os ingleses têm muito dinheiro; e como têm muito dinheiro ofendem quem gosta de futebol; se De Bruyne e Martial valem aquilo que pagaram os dois grandes de Manchester, no dia em que terminarem contrato em Madrid e Barcelona, mesmo entradotes na idade, Ronaldo e Messi não terão preço. Por isso não me levem a mal a pergunta: por que raio o dinheiro está tão mal distribuído?