Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol. 

José Mourinho arriscou e muito. Nuno Espírito Santo fez o mesmo. São cenários muito distantes aqueles que levaram ao  gamble do treinador do Manchester United e ao do FC Porto e envolvem duas faces de um risco.

Dono de um currículo invejável, o setubalense chegou, provavelmente, ao único clube em que realmente ainda tem algo a provar.

Que ninguém se iluda, o Manchester United é o maior desafio da carreira do treinador português. Porque a herança que Ferguson lá deixou é enorme, maior do que a existente quando Mourinho chegou a Madrid, com o qual o United ombreia em riqueza e mediatismo global, mas está muito aquém no resto.

Mais do que isto, a imagem do português no Chelsea não era coincidente com a postura do United, um clube com vários sirs, apesar das personalidades de Ferguson e Busby serem tão ou mais marcantes que a do português.

O investimento altíssimo em Pogba exigia retorno. E em Old Trafford isso significa duas coisas: títulos e receitas. Mourinho conquistou dois troféus, ainda que os mais pequenos da época. Recuperou terreno para a receita milionária na Champions através do campeonato, mas decidiu apostar tudo na última semana. Um risco bem alto, porque pode falhar na Premier League e na Liga Europa, cuja final vai disputar. Ainda assim, é um risco com cálculo, pois o ManUtd dependia e depende apenas de si próprio para chegar à meta. Tem, por assim dizer, algum controlo.

Porque o risco que Mourinho correu é de o acesso à Liga dos Campeões ficar, agora, a um jogo de distância e, na teoria, o Ajax até nem coloca a oposição de Arsenal, Liverpool ou Manchester City. Em vez de pensar em dois caminhos, Mourinho aposta no mais rápido.

Repete-se que o cenário é bem diferente. Mas Nuno Espírito Santo também arriscou. Neste caso, no Sporting...

O FC Porto ainda tem uma hipótese mínima de ser campeão, mas como Herrera disse, está na mãos de Deus. Podia estar, obviamente, nas mãos dos jogadores do FC Porto.

O momento fulcral dos azuis e brancos nesta liga é, para muitos, o empate em casa com o V. Setúbal. Mas aí nada foi hipotecado. Seguiu-se o clássico e Nuno Espírito Santo viu a equipa chegar ao empate na Luz. Dizia a tradição, mais do que isso, dizia a supremacia psicológica que o FC Porto tem (tinha) na Luz, que era altura de agarrar o campeonato. Os azuis e brancos meteram travão, porém. Não quiseram arriscar mais nada nessa partida e meteram as fichas todas num jogo que não jogavam: o dérbi de Lisboa.

A inexistência de uma continuidade da pressão na Luz e os minutos finais do clássico demonstraram que foi estratégico. Só não se sabia se o risco compensaria. Não compensou. Pode ser fácil hoje dizer isto, mas já na altura ficou a sensação de que o risco era demasiado alto para tal plano, sobretudo porque era uma aposta em que o FC Porto nada podia controlar.

Mais do que os empates anteriores e aqueles que se seguiram, creio que esse foi o pior momento de Nuno Espírito Santo no banco azul e branco. Ainda para mais, vindo de um homem que um dia anunciou um «Somos Porto». Nesse dia, na Luz, não o foram. Incompreensivelmente. Ainda.

O risco faz parte, só não se deve deixá-lo em mãos alheias. Mourinho já o sabe, Nuno está muito à beira de aprendê-lo.

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter