Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol (Brasil) 

Leicester e Ranieri. Um conto de fadas, coisa hollywoodesca em 2015/16. O problema deste filme é que teve continuação após o The End que rolou no final da Liga Inglesa. Devia ter sido um happily ever after de Cinderela, acabou na mais banal das decisões do futebol gerido. Despedimento.

Ranieri saiu pisado desta história de amor. Traído, apontou-se em Inglaterra. Suspeita que sim o planeta, após a correria dos últimos três jogos.

Já Lucho nunca trairia os culés. Para ele é inegociável. Luis Enrique e Barcelona entraram numa relação vencedora, mas em que uma das partes nunca ficou plenamente confortável: a tribuna de Camp Nou.

A herança de Guardiola é enorme e Luis Enrique sempre foi visto num degrau abaixo. Talvez seja correto assim ser, mas a crítica interna terá sido de mais. «Conhecendo o sítio, entendo-o perfeitamente», disse Pep após o colega anunciar a saída.

Enrique também ganhou um triplete (Champions, Liga e Taça) e, na altura da declaração da saída, tinha até percentagem de vitórias maior do que Guardiola no clube.

O Barça de Enrique não joga tão bonito como o de Pep. Parece consensual. Mas também não tem Xavi nem um Iniesta fresco e sempre disponível. Desafio enorme, porque qualquer Barça sem Xavi estará sempre um nível atrás. E no entanto, Luis Enrique venceu. E no entanto, eternizou uma eliminatória da Champions.

Se a Ranieri não bastou ser campeão inglês para o clube estar com ele na alegria e na tristeza, (…) na riqueza e na pobreza, amando, respeitando e sendo fiel em todos os dias da vida, a Luis Enrique não lhe perdoaram não ser Guardiola.

Em Stamford Bridge, agora, um grupo de adeptos não perdoa que José Mourinho seja José Mourinho. Ainda há por lá respeito, atenção. Há quem cuide do legado do treinador português, quem ainda tenha gratidão.

Mas para aqueles outros não. Chamaram-lhe Judas. E ele mostrou três dedos e, sem o dizer taxativamente, lá lhes lembrou que sem Mourinho não haveria o Chelsea de hoje.

As histórias de amor futebolísticas são, cada vez mais, anedota do passado.

Como anedota é aquela de um –zinho qualquer, a quem a professora pediu uma composição sobre o amor. Ele escreveu sobre Bufallo Bill, homem real da América do Norte, cujas histórias ficcionadas de índios e caçadas a bisontes entraram no imaginário do Wild West.

Leu –zinho que «Bufallo Bill, montado no seu cavalo matou um, dois, três…». Até que a professora interrompeu. «–zinho, que tem isso a ver com o amor?»

«Então professora, quem se mete com o Bufallo Bill f***-se.»

E quem se mete com o futebol está sujeito à ingratidão. 

P.S.- Conte e Chelsea estão na frente, imparáveis. Mas a história também diz que quem se tem metido com Mourinho, de uma maneira ou de outra, mais cedo ou mais tarde, acaba em sarilhos com Bufallo Bill.

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter.