«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.         

A cumprir a primeira época no principal escalão do futebol português, Daniel Podence cometeu um erro na Luz. Substituído na segunda parte, o avançado cedido pelo Sporting ao Moreirense soltou um gesto de desagrado ao sair do campo e seguiu diretamente para o balneário.

Uma atitude reprovável, ainda para mais se tivermos em conta que o Moreirense estava a ser comandado por um técnico interino, mas também própria de quem tem apenas 21 anos. Leandro Mendes esteve bem ao dizer apenas o indispensável sobre o assunto, na sala de imprensa: o caso será analisado internamente.

Podence merece o «puxão de orelhas», mas a importância que se deve dar a este episódio é aquela que for canalizada para a evolução do jogador. Os empréstimos não servem apenas para dar minutos de jogo aos jovens, permitem também enquadrar noutro ambiente estes erros próprios da idade.

Podence pagou pela rebeldia, mas esta não tem apenas um lado negativo. E se é justo criticar a reação à substituição, valorize-se também uma declaração do avançado no final do jogo da Luz: «Somos uma equipa pequena mas não podemos pensar pequeno. Foi isso que nos faltou: pensar mais e melhor.»

Uma análise que contrasta com uma surpreendente declaração de Leandro Mendes na sala de imprensa: «A mensagem que foi transmitida aos jogadores [ao intervalo] foi para tentar aguentar um bocado mais o 1-0 e continuar a tentar explorar o contra-ataque.»

Por mais que olhemos para esta frase como um deslize do técnico interino do Moreirense, a verdade é que a mesma reflete uma mentalidade que é mais comum do que seria recomendável para o futebol português, e partilhada por treinadores com outra responsabilidade e outro estatuto.

Sabemos que as “armas” são diferentes, mas é difícil valorizar a ideia de uma equipa que vai para o campo aguentar uma desvantagem, à espera de algo caído do céu nos instantes finais. Pelo menos quando não estamos a falar de uma eliminatória a duas mãos ou a fazer contas a um confronto direto.

O futebol português tem qualidade a mais para jogos só em metade do campo, que não valorizam a competição nem as equipas que o promovem.

Por vezes apetece dizer que se defende como nunca e se perde como sempre. É que uma coisa é colocar o foco na organização defensiva, outra é renunciar a um atrevimento que não pode estar limitado apenas ao contra-ataque. Ainda para mais se o marcador já é desfavorável.