Cristiano Ronaldo termina o ano de 2023 com 54 golos marcados. Melhor goleador do ano em todo o mundo.

Já não é notícia. É a quinta vez que o faz!

Notável é fazê-lo aos 38 anos. E prometer mais do mesmo para 2024.

E então? Quem é que ainda quer saber disso? Ainda não estamos cansados de Ronaldo?

Cristiano Ronaldo está rico. Muito rico. Uma fortuna com a qual, se calhar, nem sonhava há 30 anos, quando começou a jogar futebol no Andorinha.

Que desfrute do seu dinheiro, eu não lhe devo nada!

Será?

Ronaldo fez uma carreira soberba - e uma gestão de carreira brilhante.

A primeira coisa que devemos a Cristiano é o exemplo.

Não só a prova de que é possível atingir o topo do mundo e não perder a cabeça, mas, sobretudo, a imagem da perseverança, a capacidade de motivação, a vontade de lutar por mais, mesmo quando parece que corre mal, quando o mais confortável seria parar e descansar. E apreciar a vida.

A Ronaldo devemos o ‘incómodo’ de ouvir o seu nome sempre que, em qualquer parte do mundo sabem que somos portugueses. Incómodo? Nada disso! Orgulho!

Na Coreia do Norte ou na África do Sul – e na Arábia Saudita, claro… – Portugal significa Cristiano Ronaldo. Quase uma contrassenha.   

Sim, já aconteceu com Figo, Eusébio (e Amália!) mas Cristiano Ronaldo atingiu outra dimensão.

Talvez pelo mediatismo globalizante do século XXI; mas, seguramente, pelas suas conquistas e pela sua longevidade. A imagem resulta do desempenho. CR7 é muito mais do que uma marca.

Tivemos gerações de futebolistas brilhantes e estivemos décadas sem pisar sequer fases finais de Mundiais ou Europeus. Com Ronaldo não só estivemos sempre lá – parece que somos obrigados a vencer. 

Claro que o futebol português evoluiu, em termos de organização e profissionalismo. Desde logo, da FPF. A nossa formação é do melhor, temos excelentes treinadores que formam ótimos jogadores que se impõem nas melhores ligas.

A evolução sociopolítica do país permitiu que grande parte dessa evolução se consumasse. A ‘geração de ouro’ dos campeões do mundo de sub-20 abriu portas que o fenómeno Mourinho escancarou. Tudo verdade. Mas o fator Cristiano fez, tantas vezes, a diferença.

A segunda coisa que percebemos com Ronaldo é que podemos (querer) ser os melhores do mundo. E só ficar satisfeitos se o formos.

Cristiano Ronaldo não dura sempre – e não é, obviamente, o que era há 10 anos. Mas, como diz Roberto Martínez, «não há jogador com mais fome». De vitórias, entenda-se.

A Ronaldo não ficaremos a dever um Mundial, faltou isso. Mas temos tanto para lhe agradecer.

Mesmo que pensemos que ganhámos a final do Euro 2016 sem ele e esqueçamos como chegámos à final. Ou que nem foi o melhor na Liga das Nações.

Mesmo quando colocamos em causa a sua presença constante na Seleção Nacional e esperamos que (ainda) faça mais.

Seja qual for o lugar em que o queiramos colocar na hierarquia dos melhores – de agora e de sempre – temos de reconhecer o seu impacto. No nosso futebol e nos nossos sonhos. Na nossa ambição.

Há um ano parecia acabado, derrotado, desterrado para a Arábia Saudita. Afinal, 2023 foi um ano de sucesso.

Fácil? Quantos foram para lá e não fizeram, sequer, parecido?

A Ronaldo devo dizer: Obrigado! Por 2023 e por tudo o resto. Até por ouvir as críticas e continuar disponível.

Feliz 2024 para si e para o futebol português.

E, já agora, também para Cristiano Ronaldo – a quem não devo nada.