Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol (Brasil)

Não existiria o futebol moderno sem o Maracanã.

O Centenário, em Montevideu, foi construído para o Mundial de 30. Mas a grandiosidade da obra abrangia também os 100 anos da constituição uruguaia.

Em 47, o Rio de Janeiro decidiu construir um recinto que teve a final do Campeonato do Mundo como único propósito. 

Em 1950, 199 mil pessoas assistiram ao Maracanazo.

Seguiram-se-lhe outros «azos». A Luz em 2004, Mineirão em 2014, Saint-Denis em 2016, por exemplo.

Não haveria futebol moderno sem o Maracanã.

Em 1969, Rei Pelé chegou ali ao golo mil. 

Antes, em 1961, marcou o gol de placa. Não há imagens. Foram perdidas. O que também levou à modernidade das TVs. E a que todos os bonitos e espetaculares fossem, a partir daí, golos de placa.

Em 1976, deu-se a Invasão Corinthiana. 70 mil fiéis, juram. O Corinthians venceu e não mais esqueceu o dia. O Fluminense também não.

Português de avós. O maior artilheiro do Maracanã. Arthur Antunes Coimbra. O Zico. Flamengo, Udinese, Flamengo, Kashima Antlers. Jogador da era moderna, não evitou a fatalidade do romantismo em 1982.

E o outro Pelé que não o branco. Edson Arantes do Nascimento. Ninguém marcou mais golos do que ele naquele estádio com a camisa canarinha.

Não haveria futebol moderno sem o Maracanã. Porque não haveria futebol moderno sem Geraldinos e Arquibaldos.

E o futebol moderno também empresta palco, porque há outros artistas que também sonham com estádios assim.

Rock in Rio de 1991…

18 de janeiro: Prince, Joe Cocker, Colin Hay, Jimmy Cliff,

19 de janeiro: INXS, Carlos Santana, Billy Idol, Engenheiros do Hawaii, Supla, Vid & Sangue Azul

20 de janeiro: Guns N' Roses, Billy Idol, Faith No More, Titãs, Hanoi Hanoi

22 de janeiro: New Kids On The Block, Run DMC, Roupa Nova, Inimigos do Rei

23 de janeiro: Guns N' Roses, Judas Priest, Queensrÿche, Megadeth, Lobão, Sepultura

24 de janeiro: Prince, Carlos Santana, Laura Finocchiaro, Alceu Valença, Serguei

25 de janeiro: George Michael, Deee-Lite, Elba Ramalho, Ed Motta

26 de janeiro: Happy Mondays, Paulo Ricardo, A-Ha, Debbie Gibson, Information Society, Capital Inicial, Nenhum de Nós

27 de janeiro: George Michael, Lisa Stansfield, Deee-Lite, Moraes Moreira e Pepeu Gomes, Leo Jaime

O Maracanã deixou de ser estádio. Ganhou cadeiras, perdeu rampas. É mais arena. Coisa da modernidade. Ganhou museu também. O que é moderno, diga-se.

Tem estátuas e bustos. De anjos de pernas tortas, de Zagallo, de Bellini.

Tem Walk of Fame: tem os pés de Pelé, do Furacão da Copa de 70, de Rivelino. E de Eusébio. O primeiro estrangeiro a ser lá homenageado.

Tem Mário Filho. Jornalista esportivo que dá nome ao palco. Porque o futebol joga-se, mas também se narra. Assim é a modernidade.

Não haveria crónica desportiva sem o Maracanã...

...que tem Jogos Olímpicos. Tem o Maisfutebol. Tem as lágrimas de Neymar.

Tem Fla-Flu.

O Maracanã tem a emoção do Brasil.

E sua história, que é feita da ascensão negra, tem também: «Quando o brasileiro acusou Barbosa, Juvenal e Bigode, acusou-se a si mesmo.»

Agora o Maraca tem abandono. Tem lixo. Equipamento empilhado. Vidros partidos e a erva está a crescer tanto que gatos se vadiam nela.

O Maracanã tem a Comissão do Rio2016. Tem a Odebrecht. Tem o governo federal. 

Não tem é quem pague.

E como sempre, Nelson Rodrigues, irmão de Mário Filho, cronista dos cronistas, vivo entre 1912 e 1980, uma frase para resumir mais uma moderna confusão tem. 

«Há homens que, por dinheiro, são capazes até de uma boa ação.»

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter.