«Se eu me chamasse Marrekovic» é uma rubrica do programa televisivo de desporto da TVI24 «Maisfutebol» (sextas-feiras, a partir das 22:00), da autoria de Luís Mateus, e que o próprio transpõe agora para o espaço digital. Criada a partir da frase original do futebolista Tozé Marreco, pretende destacar jovens jogadores portugueses em bom momento e/ou a merecer maior atenção.

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Rui Pedro era, à entrada desta época, um dos avançados mais promissores do futebol português.

O rótulo de qualidade estava certificado pelos dois golos marcados em 13 partidas pelo FC Porto entre campeonato, Liga dos Campeões e Taça da Liga, somados aos cinco tentos e duas assistências ao serviço da equipa secundária dos dragões na II Liga, e aos sete remates certeiros em seis partidas na UEFA Youth League.

Não havia dúvidas. Quando se olhava para 2017/18, seria sempre importante jogar muito, num patamar tão competitivo como a Liga principal, em que já tinha dado algumas cartas. O empréstimo ao Boavista, mesmo tendo deixado Sérgio Conceição com opções mais reduzidas na frente de ataque, sempre pareceu a decisão mais correta para assegurar o seu futuro. Rui Pedro poderia ser seguido de perto, estar próximo do seu habitat natural, somar minutos e, se possível, golos.

A teoria revelou-se errada já em novembro.

O que afasta o ponta de lança de cumprir minutos e eventualmente mostrar já algum crescimento é, de acordo com o treinador Jorge Simão, um problema de «entrega». Por outras palavras, «compromisso» com a equipa, e com os seus objetivos.

O jornalismo mudou nos últimos anos ao mesmo tempo que o futebol também se transformava, e acompanhar os treinos das principais equipas tornou-se aos poucos uma impossibilidade. O técnico do Boavista tem de ficar, da nossa parte, sem contraditório, o que não quer dizer que não tenha razão. Não sabemos se, de facto, falta entrega e compromisso a Rui Pedro no clube a que está emprestado e, se isso acontece, quais as causas.

O jovem internacional sub-20 apresenta até hoje, na temporada em curso, 281 minutos divididos por sete encontros, seis da Liga, um da Taça de Portugal. Foi titular em três, marcou um golo:

Se Jorge Simão tem razão, a decisão é correta, pedagógica e até formadora, num momento crucial do desenvolvimento do futebolista. Cabe a este entender a mensagem e mudar comportamentos para não desperdiçar esta etapa de desenvolvimento. No entanto, um jogador da sua qualidade terá de voltar a jogar, mais tarde ou mais cedo. O que está em causa é maior do que simples compromisso.

Acredito que, se a conjuntura não mudar, o FC Porto mudará o destino do jogador.

Quando foi chamado a jogo, depois de há muito estar a ser preparado, ao treinar junto dos grandes nomes da equipa, Rui Pedro mostrou logo ao que vinha: tecnicamente evoluído, capaz de pisar com qualidade dentro e fora de área, e incapaz de se remeter a um papel de clássico 9, mais fixo na área, embora com uma excelente relação com o golo. Um lutador pela posse de bola, que depois se transfigura, torna-se frio a definir, muitas vezes pragmático e eficaz.

Não há dúvida de que, mantendo-se no caminho certo e sem problemas físicos, será um dos nomes grandes do futebol português e terá lugar cativo no ataque portista mais cedo ou mais tarde. Falta agora que a mensagem seja entendida, seja ele o destinatário ou, pelo contrário, os seus treinadores.

Rui Pedro é ainda uma das maiores promessas do futebol português.