«Da minha parte há já uma ligação muito profunda a esta região. Não posso alterar o meu local de nascimento – sou vimaranense e clubisticamente sou vitoriano – mas há outro marco, outra região e outra forma de estar que me diz muito. Não estarei meio por meio, mas há já uma grande proximidade aos madeirenses»

Manuel Machado renovou contrato com o Nacional da Madeira há um par de semanas mas o acordo não foi difundido com a importância devida.

Culpa da imprensa, do adepto comum, da insularidade do clube.

Temos por hábito colocar a atualidade dos emblemas não-grandes a um canto e reagir apenas perante eventos drásticos, de ruptura, inesperados. Não é o caso.

A renovação de Manuel Machado é um sinal de confiança e acima de tudo o elogio justificado ao treinador que enfrenta um processo de longa duração sem paralelo no futebol português.

O vimaranense tem conseguido ultrapassar dois obstáculos neste desporto a grande velocidade: a idade (é o terceiro mais velho na Liga, depois do regressado Nelo Vingada e de Jorge Jesus) e a longevidade num clube, chegando aos 43 meses, uma das melhores marcas na Europa.

Manuel Machado chegou ao Nacional da Madeira em outubro de 2012 e vinha de outras duas passagens pelo clube insular. No total, são sete épocas no banco alvinegro. A caminho da oitava.

Esse crédito acumulado permitiu-lhe resistir a mais de meia temporada na segunda metade da tabela da Liga. Eis o cenário a 23 de janeiro de 2016: derrota com o vizinho União da Madeira por números pesados (3-0) e a linha de água a apenas um ponto.

O típico dirigente português, com outro que não Manuel Machado, já teria feito estalar o chicote. Mas o Professor resistiu. Garantiu profundidade para o plantel na reabertura do mercado mas arrancou para uma fase impressionante com a mesma base na equipa.

Nas últimas dez jornadas o Nacional venceu seis jogos (contra apenas quatro em dezanove rondas, até então), empatou dois e perdeu outros dois, frente a Sporting e Marítimo.

A formação insular está catorze pontos do penúltimo classificado e a oito da Europa, patamar difícil mas que parecia completamente inalcançável há três meses.

Mérito tremendo de Manuel Machado, que merece o justo reconhecido na hora devida.

O técnico vimaranense alia a consistente performance desportiva a um discurso rendilhado que se tornou popular no futebol português. Mas raramente fala sem sentido, desbobinando frases de circunstâncias.

Manuel Machado teve momentos menos felizes, como o desentendimento entretanto superado com Jorge Jesus, mas devia ser ouvido com maior frequência e audiência. São homens como este, com ideias, crédito e coragem para as expor, que fazem todo o sentido no futebol português.

Entre Linhas é um espaço de opinião com origem em declarações de treinadores, jogadores e restantes agentes desportivos. Autoria de Vítor Hugo Alvarenga, jornalista do Maisfutebol (valvarenga@mediacapital.pt)