Perdida a fase inicial da temporada, devido a questões salariais posteriormente resolvidas, Miguel Lopes acabou por conquistar a titularidade no lado direito da defesa do Sporting, justificando nos últimos jogos a opção de Marco Silva.
 
O valor de Miguel Lopes nunca esteve em causa, na verdade, e não foi por opção de Marco Silva que o lateral esteve, inicialmente, afastado da competição. Mas quando essas questões foram ultrapassadas, já com a temporada em andamento, o técnico leonino respeitou a confiança depositada em Cédric. E bem. Com um rendimento sempre muito regular, o número 41 do Sporting nunca justificou propriamente a saída do «onze».
 
Foi Miguel Lopes que, gradualmente, conquistou a titularidade. Até porque os primeiros jogos revelaram esperadas limitações físicas, que só o tempo (e o trabalho) podiam superar. Os apontamentos positivos eram proporcionais aos erros, às dificuldades. Com o aumento da utilização essa balança foi ficando positivamente desequilibrada.
 
Durante muito tempo Miguel Lopes teve de contentar-se com os jogos para a Taça de Portugal e Taça da Liga, ou aqueles em que Cédric estava castigado. Mas encarou-os a todos como se fossem um exame de admissão. E a aprovação chegou na goleada caseira ao Vitória de Guimarães, há menos de um mês. Fez então uma assistência para Slimani e teve ainda participação direta em mais dois golos leoninos. Foi a figura do jogo para o Maisfutebol, rubricando uma daquelas exibições que nenhum treinador pode ignorar.
 
E Marco Silva não a ignorou. Desde então Miguel Lopes tem sido o dono do lado direito da defesa, e neste domingo, em Setúbal, assinou a terceira assistência na Liga. É no aspeto ofensivo que mostra que pode dar mais à equipa do que Cédric.
 
Uma equipa grande precisa de laterais atrevidos, e Miguel Lopes tem essa característica. Sem que isso implique necessariamente que na retaguarda ficam os defeitos. E de qualquer forma as equipas que lutam por títulos têm de assumir esse risco, tendo em conta que na maior parte das ocasiões encontram adversários na expectativa. E a forma de evitar os contra-ataques não deve passar por «amarrar» ninguém, mas por encontrar outras formas de equilibrar o barco.
 
Talvez Cédric seja mais sólido defensivamente (não é líquido que o seja), mas a diferença no plano ofensivo dá mais pontos a Miguel Lopes. Na forma e no conteúdo. Enquanto Cédric ataca sobretudo em segunda vaga, passando nas costas do extremo, Miguel Lopes também gosta de provocar o desequilíbrio conduzindo a bola em transição. E se nenhum deles mostra especial vocação para o golo, o camisola 13 decide melhor no último terço, nomeadamente ao nível dos cruzamentos.
 
Muitas vezes excessivamente dependente dos desequilíbrios provocados por Jefferson, o Sporting precisa de alguém para assumir papel semelhante do lado contrário. Miguel Lopes é agora o dono do lado direito da defesa leonina, e isso não é demérito de Cédric.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.