«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.         

Os empates com Copenhaga e Tondela, na última semana, vieram confirmar as dores de crescimento do FC Porto de Nuno Espírito Santo, técnico que assume a difícil tarefa de tentar incutir um novo desenho tático em pleno contexto competitivo.

Antes mesmo da chegada de Laurent Depoitre ao Dragão, Nuno já tinha deixado clara a vontade de testar o 4x4x2, daí que até tenha decidido recuperar Adrián López, que passou de dispensado a titular na receção à Roma. Uma ideia cimentada depois com a contratação ao Gent do avançado belga, que já por duas ocasiões apareceu a fazer dupla de ataque com André Silva.

Nuno não renunciou ao 4x3x3 com raízes profundas no Dragão, mas vai trabalhando uma alternativa que não podia ter ficado consolidada só com a pré-época, naturalmente, e que vai agora gerando alguns conflitos de identidade.

O 4x4x2 não explica, por si só, que a equipa azul e branca tenha vencido apenas metade dos jogos disputados, mas as dificuldades apresentadas em Tondela e até a reação apática ao empate do Copenhaga, em superioridade numérica, denunciam algum desconforto na transição.

A «inovação» de Nuno até pode contornar a teimosa carência de um médio capaz de fazer a ligação ao ponta de lança – Herrera nunca o foi e Óliver Torres também é mais «8» do que «10» -, mas para já somar Depoitre a André Silva tem sido subtrair ao potencial individual de cada um dos avançados e, por consequência, ao poder ofensivo da equipa.

O que se torna mais surpreendente é que Nuno Espírito Santo peça a André Silva e Depoitre para jogarem praticamente lado a lado, em vez de um modelo com um segundo avançado e um ponta de lança mais posicional, à semelhança do que vemos nos rivais Benfica e Sporting.

Não quer dizer que as ideias de Jorge Jesus e Rui Vitória sejam mais válidas, mas as características de André Silva e Depoitre também parecem «pedir» essa via. Sobretudo se tivermos em conta o perfil do internacional belga, particularmente vocacionado para vingar entre os centrais, a segurar a bola de costas para a baliza, como ameaça constante em zona de finalização.

O que vimos em Tondela, e em ocasiões anteriores, foi Depoitre com um raio de ação mais alargado, a procurar a bola em zonas laterais do campo, em zonas ainda distantes da baliza, onde está visivelmente mais desconfortável.

Com dois alas constantemente à aparecer no corredor central (Brahimi e Otávio), junto a André André, e com os laterais algo «amarrados» para as tarefas ofensivas (aparentemente por estratégia), muitas vezes tiveram de ser os avançados a dar largura à equipa.

E por mais mobilidade e capacidade técnica que tenha André Silva, que mesmo na equipa B jogou algumas vezes a partir de uma ala (em 4x3x3), a convivência com outro avançado também parece ter travado um pouco a sua explosão do jovem internacional português.

Se é para ter companhia, a promessa dos dragões preferirá alguém mais parecido, e a verdade é que em Tondela esteve muito mais ativo (embora perdulário) nos vinte minutos finais, partilhados com Adrián López, do que nos setenta anteriores, com Depoitre.

Com outros protagonistas ou com maior química entre André Silva e Depoitre, o 4x4x2 portista tem espaço para crescer, mas Nuno Espírito Santo também sabe que a margem para trabalhar reduz-se a cada escorregadela. Mas o regresso de Óliver Torres – e de Brahimi, já agora – deixa(m) a ideia de que, pelo menos para já, o FC Porto é mais forte em 4x3x3.