«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.         

O Euro2016 começou finalmente. Foi preciso esperar pelos oitavos de final para o arranque formal da prova, depois de um período em que aquilo que se passava nas ruas francesas merecia mais destaque do que aquilo que se passava nos relvados. Do vandalismo intolerável que marcou os primeiros dias da prova à insistência dos magníficos adeptos irlandeses para limpar essa mancha.

Só agora é que os golos começam a agarrar-se à memória, depois de uma fase de grupos com pouco para lembrar, a confirmar os defeitos de um formato que promove o facilitismo. Desde logo na qualificação, que perde relevância (algo que os clubes vão aproveitar cada vez mais), mas sobretudo numa fase de grupos que só exclui 8 de 24 seleções.

Quanto mais se alarga o filtro mais se reduz a necessidade de ir à procura da vitória. Ou pelo menos adia-a, o que contribui para a cultura do pontinho, reforçando muralhas defensivas que condicionaram a qualidade de jogo da primeira fase, com repercussões na pior média de golos dos últimos 36 anos.

A contrastar com o bom exemplo da Islândia, que não se contentou com o apuramento e ainda foi à procura do golo nos instantes finais, tivemos a Eslováquia a segurar o nulo frente à Inglaterra na última jornada, apesar de estar atrás na classificação do grupo, ou a Irlanda do Norte a defender uma desvantagem frente à Alemanha para conservar a diferença de golos que permitia seguir para os oitavos de final na terceira posição. 

Curiosamente, ou nem tanto assim, apenas uma das seleções que passou a fase de grupos nessa condição continua em prova: Portugal. O aluno que entrou na universidade com média negativa mas que ainda acalenta a esperança de sair de lá com o diploma.

Se outros ficaram pelo caminho, acusando a falta de alicerces para enfrentar uma exigência superior, o representante português vai continuando em avaliação, mesmo sem melhorar muito a nota. E ninguém o impede de conseguir assim o diploma, que as regras já estavam definidas e ao fim de poucos anos já ninguém se lembra da nota. Mas depois também não pode esperar um lugar no quadro de excelência, nem criticar aqueles que pensam pequeno. Até porque ainda vai bem a tempo de subir a nota.