Após cinco jogos consecutivos sem sair do banco de suplentes do FC Porto, Vincent Aboubakar voltou à competição no último encontro da época. Se a receção ao Penafiel ficou marcada sobretudo pelos protestos dos adeptos azuis e brancos, os únicos momentos de festa foram proporcionados pelo avançado camaronês, que saiu do banco para marcar um golo e oferecer outro (o do adeus de Danilo).
 
Aboubakar terminou assim a temporada com oito golos e quatro assistências em vinte jogos disputados de dragão ao peito. Números interessantes para um jogador de 23 anos, ainda para mais em época de estreia no clube, e na «sombra» de uma referência como Jackson Martínez.
 
O camaronês pode não ter a qualidade do colombiano, e talvez até nunca venha a ter, mas respondeu positivamente quando foi chamado à competição. Nomeadamente quando Jackson esteve ausente por lesão. Ainda assim, quando chegou a fase das decisões, não entrou nas contas de Julen Lopetegui.
 
Aboubakar não saiu do banco em Munique, quando o FC Porto foi goleado pelo Bayern e disse adeus à Liga dos Campeões. E depois também não saiu do banco nas visitas à Luz e ao Restelo. O FC Porto precisava vencer esses encontros, mas empatou ambos, e mesmo nesse cenário o treinador optou por não lançar um segundo ponta de lança (com o Belenenses entrou Adrián, mas não é propriamente um «9»).
 
Este afastamento momentâneo chegou a ser associado ao acordo de transferência estabelecido com o Lorient. Isto porque o presidente do emblema francês chegou a dizer que, a cada vinte jogos que Aboubakar cumprisse, estava previsto que o FC Porto recuperasse entre 10 a 20 por cento dos direitos do jogador, a troco de dois milhões de euros.
 
Seria de estranhar que, em plena luta pelo título, o FC Porto excluísse o jogador por tal verba. Pinto da Costa já veio garantir, de resto, que a compra de mais uma percentagem do passe do camaronês é um direito, e não uma obrigatoriedade.
 
Sendo assim a única leitura possível é a de que Aboubakar não saiu do banco por opção de Julen Lopetegui. O técnico tinha esse trunfo no banco, mas não o lançou para a mesa das decisões. E isso estranha-se ainda mais. Nesse caso estamos perante mais um sinal de que faltou audácia nos palcos das decisões.
 
Os trunfos nem sempre garantem vitórias, mas de nada serve guardá-los na mão.
 
PS: Jorge Jesus podia ter gerido melhor a situação dos três jogadores do Benfica que chegaram à última jornada ainda sem qualquer minuto cumprido na Liga. A lesão de Salvio impediu que Paulo Lopes jogasse, mas a entrada de Talisca ao intervalo já inviabilizava que um elemento do plantel se tornasse formalmente campeão. O excluído seria Mukhtar, ao que tudo indica, mas o técnico não tinha necessidade de fazer essa desfeita, ainda que o alemão tenha chegado apenas em janeiro. Estavam três pontos em disputa e o título de melhor marcador, mas uma aposta em Sílvio no lugar de Eliseu, por exemplo, não alteraria significativamente a resposta da equipa. 

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos.  Siga-o no Twitter.