A nove jornadas do fim da Liga já se pode começar a gravar o nome do melhor jogador da edição 2014/15. Ainda há tempo para o fazer, que a última jornada está marcada para daqui a dois meses, mas pelo menos a primeira letra já pode ser gravada no troféu.
 
Ainda que o campeonato só agora esteja a entrar na sua fase mais decisiva, parece altamente improvável que o nome do melhor jogador da prova não comece por J. Se não for Jackson é Jonas.
 
Se durante muito tempo o nome do colombiano parecia certo no troféu, a influência do brasileiro no Benfica tem animado a discussão, ainda que o portista continue a ser o principal candidato.
 
Não é demérito de Jackson, longe disso, mesmo perante a atual indisponibilidade por lesão. E por melhor que seja a resposta de Aboubakar nestas semanas, a fasquia foi deixada bem alta. Não só pelos 17 golos que fazem do colombiano o melhor marcador da Liga, mas também pelas cinco assistências e pelo peso global que tem na forma de jogar da equipa.
 
Jackson é ponta de lança e segundo avançado em simultâneo. É uma figura imponente na área, com instinto goleador, mas também tecnicamente competente para recuar no terreno para funcionar como apoio e explorar o espaço entre linhas. Um perfil bastante completo, que permite a Lopetegui prescindir de um «10» e ter dois «8». Um para assumir a construção de jogo em zonas mais recuadas (Óliver, normalmente) e outro mais para transportar a bola, para movimentos de rutura no espaço que Jackson liberta (Herrera).
 
Jonas chegou já com a digressão 2014/15 na estrada, mas o impacto foi imediato e resiste de forma bastante sólida. Não é fácil ganhar logo influência nas ideias de Jorge Jesus, mas o brasileiro conseguiu-o. «Lima, Salvio e Nico são três jogadores que trabalham comigo há quatro ou cinco anos. Jogam de olhos fechados em relação ao nosso trabalho que fazemos durante a semana. E o Jonas, como é muito inteligente e muito evoluído tecnicamente, percebe com facilidade o que os outros três vão fazer. Encaixou perfeitamente nos outros três», disse Jesus após a vitória sobre o Sp. Braga, assumindo que o avançado ex-Valencia está a ter um rendimento acima do esperado.
 
A maior virtude de Jonas está mesmo na mente, sem ignorar a qualidade técnica. Mas a influência do brasileiro nota-se sobretudo na forma inteligentemente leve como que se movimenta, como se fosse um bailarino em bicos de pés. O Benfica é uma das melhores equipas do mundo a invadir o bloco defensivo dos adversários, e Jonas veio aprimorar essa vocação. E para além disso ainda marca golos com uma regularidade impressionante.
 
Jackson e Jonas são, por estes motivos, os principais favoritos ao título de melhor jogador da Liga 2014/15. Mesmo nos plantéis de Benfica e FC Porto torna-se difícil encontrar nomes tão sólidos. Gaitán e Salvio têm sido menos desequilibradores do que em anos anteriores, Lima tem menos golos do que devia, dada a projeção ofensiva da equipa, e Talisca passou de principal figura a suplente. Luisão e Maxi oferecem a regularidade habitual, mas ainda assim com uma influência menor à de Jonas ou Jackson. Tal como Danilo, do lado do FC Porto, onde o rendimento de Brahimi caiu no início de 2015, a preponderância de Óliver Torres tem sido algo condicionada pelas lesões e Tello só agora juntou eficácia na finalização à importância que já demonstrava nas assistências (é o melhor jogador da Liga nessa vertente, com seis passes para golo).
 
O Sporting tinha Nani como grande candidato a jogador do ano, mas também no caso do internacional português houve uma quebra evidente de forma no início do ano civil. E nestas coisas é óbvio que pesa também o afastamento pontual do Sporting relativamente à luta pelo título.
 
A Liga não se esgota nos grandes, e jogadores como Danilo ou André André merecem referência, entre outros, mas o nome do melhor jogador da época 2014/15 deve mesmo começar por J.

«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.