Tirambaço: substantivo masculino; Chute violento em direção ao gol. 

Ah, o Brasil.

Esse país da Cidade Maravilhosa que é o Rio, e da «capital» da Lusofonia, que é essa imensa São Paulo.

Sítio de mineiros, baianos, paulistas, e outros tipos como cariocas que «são bonitos, são bacanas, são sacanas» e «nascem craques» como diz a gaúcha Calcanhotto. O Brasil é berço de Chicos, Caetanos, Betânias, Elis de apelido rainha e sua filha Maria, que também é Rita.

País de Pelé, Tostão, Garrincha, Fenómeno e outros Ronaldos e Ronaldinhos. Nação de seu Dadá Maravilha e o baixinho Romário, poetas da bola.

Terra devota a Deus, por tudo o que Ele ali criou.

Contou um dia o paulista Juca Kfouri, cronista desportivo, a anedota. Que o «Barbas», como Lhe chama Maradona, criou primeiro a Europa e depois deu outra margem ao Atlântico.

«Na América vou fazer um enorme país, o Brasil, com 8000 quilómetros de costa, litoral belíssimo, sem catástrofes naturais e os melhores jogadores de futebol.»

Aí, com os restantes quatro dedos encostados ao polegar e agitando a mão no ar, a Itália contestou.

«Mas Deus, o que é isso? Não têm vulcões, nem terramotos, têm paisagens lindas e ainda vão ter os melhores jogadores de futebol?»

Perante a indignação, Deus respondeu: «Espera até veres os dirigentes que vou lá pôr… serão os piores.»

O Brasil é o país do Mensalão e do Lava Jato. Da Máfia do Apito e de Luciano Caldas Bivar. Antigo candidato à Presidência da República, que declarou ter subornado a CBF para que fosse chamado à seleção o médio Leomar, do Sport Recife.

O Sport Recife! Clube oficialmente campeão do Brasil no ano de 1987, decretou o Supremo Tribunal… na semana passada!

Brasil, país tão irmão de um outro. Este onde houve Face Oculta e há Operação Marquês e Jogo Duplo, depois de Apito Dourado. Onde os campeões de há 80 e 90 anos ainda acabarão determinados pelo tribunal da Praça do Comércio.

Onde torcidas se chamam claques e onde três delas entoam cânticos e escrevem tarjas irreproduzíveis. Onde clubes se lamentam em comunicado, sem deixarem de pôr acusação nas entrelinhas.

A Barra os Tigres, torcida organizada do Criciúma, teve cântico condenável sobre a Chapecoense, a alegria do Brasil que desapareceu em novembro último, na Colômbia.

O emblema de Santa Catarina, Estado do país dos «piores dirigentes», suspendeu a claque «até que a mesma apresente à diretoria do clube os nomes das pessoas envolvidas no episódio envolvendo cânticos direcionados à Chapecoense».

Não sei se a Barra os Tigres é legal ou não. Se há lista com nomes de integrantes ou nem por isso.

Mas sei disto: no Brasil, mais do que comunicados houve ação; no Brasil, mais do que um pingo de vergonha, houve um de dignidade. 

Porque a decência, neste(s) caso(s), não é uma questão legal. A bem dizer, nem de é de claques, torcidas, grupos de sócios ou de adeptos. É de pessoas. E da vontade delas. Ou alguém tem dúvidas que para acabar com estes episódios, e outros, no futebol português, basta querer? Mais até, nem é preciso um mar de gente. Três pessoas chegam, assim tivessem elas um pingo de decência.

Quando respondeu à Itália, Deus, obviamente, não sabia do que estava a falar.

A não ser naquela parte de que o Brasil é um paraíso…

O Tirambaço é um espaço de opinião do jornalista Luís Pedro Ferreira. Pode segui-lo no Twitter