Não sei se algum dia compreenderemos exatamente o porquê da saída de Paulo Bento , conhecida esta quinta-feira.

Quando regressou do Brasil, Paulo Bento foi à TVI24 responder a todas as perguntas. Manifestou segurança e serenidade. Garantiu que continuaria. No dia em que passaram dois meses sobre o adeus ao Mundial recebeu do presidente da Federação mais uma prova de confiança: foi-lhe entregue a direção técnica nacional. Se existisse algo que o incomodasse não teria participado nesta nova fase. O mesmo deve ser dito em relação a Fernando Gomes. A presidente da Federação não precisava de ter dado aquele passo e não o teria feito se houvesse o menor sinal de que o selecionador admitia sair. Até porque esta situação também fragiliza o líder federativo.

O jogo com a Albânia foi mau e o resultado ainda pior. Quando chegou à sala de imprensa, ao contrário do que sucedeu em outras ocasiões, Paulo Bento não aceitou falar sobre o futuro. Esse foi o sinal de que algo não estava bem. Pelo menos para mim. Mas posso estar a ver mal.

Todos conhecemos Paulo Bento. Não se deixa abalar por maus resultados. Uma derrota, mesmo dura como esta da Albânia, não o faria bater com a porta.

Resumindo: algo de muito relevante se passou entre a conferência de imprensa de Fernando Gomes e o final do Portugal-Albânia. Ou, no máximo, o início desta semana. Será que algum dia saberemos exatamente o que foi?

Era possível continuar?

Escrevi-o depois da estreia na qualificação para o Euro 2016: acho que Paulo Bento ficou a meio da ponte no jogo com a Albânia. Nem renovação, nem continuidade. Não compreendi a convocatória, muito menos o onze. O selecionador, do meu ponto de vista, não entendeu o essencial. A mensagem não chegou aos adeptos e só Paulo Bento saberá se tocou nos jogadores. Visto de fora, não pareceu.

Tudo somado, acho que o trajeto de Paulo Bento na seleção é positivo. Conseguiu dois apuramentos e levou a seleção às meias-finais de um Campeonato da Europa. O Mundial 2014 foi mau, sim. Mas não foi a única equipa nacional a desiludir. Face ao que se viu no Brasil, é evidente que algumas convocatórias não foram felizes. A gestão do processo Ronaldo também não foi exemplar. E a lista para a Albânia não gerou confiança no futuro da seleção.

Quando saiu do Sporting, Paulo Bento confessou que tinha ficado umas semanas a mais. Quando resolver falar sobre o que se passou na seleção nos últimos tempos certamente teremos mais informação. Mas não acredito que mais uma vez, como nessa alura, Paulo Bento tenha decidido com o coração e avaliado mal as condições objetivas de que dispunha. Seria incompreensível.

Os adeptos estavam pouco convencidos, mas isso, só por si, nunca fez cair um treinador. A relação com dirigentes e jogadores é que define, sempre, o tempo de permanência de um técnico num cargo. Paulo Bento, Fernando Gomes e os jogadores mais velhos, com Cristiano Ronaldo à cabeça, terão de, mais dia menos dia, dizer exatamente o que pensam sobre o tema. 

E agora quem?

Antes de tentar responder a esta pergunta, dizer o essencial: o nome do próximo selecionador nacional não é o mais importante.

Num clube, o treinador é apenas uma peça de um todo. Uma peça importante, claro, mas uma peça. Numa seleção, a capacidade de influência do treinador é muito reduzida. Não é irrelevante, claro, mas há aspetos fundamentais antes de escolher alguém.

Uma vez que não é possível ir ao mercado, os jogadores disponíveis para a seleção resultarão sempre de três factores: a qualidade da formação em Portugal, o número de oportunidades oferecidas aos jovens futebolistas quando passam a seniores e a qualidade da competição oferecida aos jogadores.

A Federação tem algum poder para influenciar a formação, colocando dinheiro nos clubes de base e regulando os quadros competitivos, por exemplo. E trabalhando bem nas camadas jovens. Mas grande parte das opções são dos clubes.

A FPF e a Liga podem, com alguma imaginação, tentar limitar a utilização de estrangeiros. Mas sabemos que esse terreno é irregular, em virtude das leis que não permitem limitar o direito ao trabalho. As escolhas e os negócios dos clubes desempenham um papel fundamental. E é claro que para todos que os maiores emblemas, com exceção do Sporting, em nada têm contribuído para fazer crescer os jovens talentos.

Na mesma linha, as oportunidades para portugueses nas equipas principais escasseiam. E não dependem da FPF, como se percebe. 

O combate pela afirmação do jogador português tem poucos adeptos. Em Portugal, quase todos são de um clube. É nisso que pensam, é essa bandeira que os empolga. 

A seleção é algo de que muitos se lembram nos dias dos jogos e poucos elegem como prioridade. Enquanto for assim, evidentemente será complicado. Seja quem for o sucessor de Paulo Bento.

Dito isto, felizmente há opções com o perfil desejável (qualidade técnica, experiência de futebol ao mais alto nível, organização, visão e conhecimento do futebol português, capacidade de relacionamento com dirigentes, jogadores e outros treinadores e sem ódios de estimação. E português).

Óbvio, mas sem rasgo

Fernando Santos (vários pontos a favor, dois problemas: o futebol que a Grécia praticou com ele nunca entusiasmou e renovação foi algo que não conseguiu fazer)

Jesualdo Ferreira (as saídas do Sporting e do Sp. Braga fragilizaram-no um pouco. Tem evidentes capacidades técnicas e experiência, mas nesta fase não parece um nome capaz de mobilizar os adeptos)

Um pouco mais complicado

Vítor Pereira (mais do que a relação recente com o FC Porto, a guerrilha que manteve com o Benfica. Qualidades técnicas e pessoais evidentes, mas sem o tempo de distanciamento necessário. O facto de 
Fernando Gomes também ser um ex-FCP também não ajuda a acreditar nesta solução)

Leonardo Jardim (acabou de chegar ao Mónaco, mas o clube que o contratou já não existe. O projeto mudou e o principado já não é um lugar de sonho. Para o treinador poderia fazer todo o sentido mudar. Provou em Alvalade que sabe trabalhar com poucos recursos)

Arriscado

Sérgio Conceição (em tempos, treinadores muito jovens não era opção para as seleções. Isso tem mudado. Talvez seja cedo. Provavelmente é. O facto de estar no Sp. Braga também não ajuda. Mas...)

Paulo Sousa (está no Basileia, na Liga dos Campeões, provavelmente não faria sentido abandonar este projeto e correr para a seleção)

Sem sentido

Manuel José (não percebo como há quem continue a agitar este nome)

Se a escolha de Fernando Gomes recair em alguém fora desta lista ficarei sinceramente surpreendido.