«Cristiano é fenomenal. Não é comparável com mais ninguém. É o melhor futebolista do Mundo, será o melhor futebolista de sempre e o melhor desportista de sempre»
JORGE MENDES, empresário de CR7
 

«Não vou tirar o pé de acelerador. Espero que 2015 seja um ano risonho, como foi 2014. Espero apanhar Messi e ganhar a quarta»
CRISTIANO RONALDO, Bola de Ouro 2014, 2013 e 2008
 
 
E Cristiano lá ganhou a sua terceira Bola de Ouro.
 
Em outubro passado, nesta mesma rubrica, lancei uma sugestão em forma de pergunta: «não dá para antecipar» a entrega da Bola de Ouro?
 
O ano de CR7 assim o exigia. Mesmo com os meses em que atuou condicionado por lesão. Mesmo com a desilusão portuguesa no Mundial do Brasil.
 
Desta vez, Cristiano não chorou. O momento da vitória foi celebrado de forma mais controlada, mas nem por isso menos sentida. O peso da repetição? Talvez um pouco, mas acima de tudo uma diferença: no ano passado, na segunda conquista, havia a noção de que CR7 merecia muito, mas ainda um certo receio do efeito Blatter.
 
Agora, o triunfo foi tão claro (bem mais que Messi e Neuer, os outros nomeados, juntos) que Cristiano já pôde preparar de outra forma o momento.
 
A questão, em 2014, nem estaria sequer no primeiro lugar a Cristiano. O próprio Messi admitiu que «Ronaldo mereceu a Bola de Ouro». Estaria mais entre Neuer e Messi para o segundo posto e, nesse particular, concordo com Toni Kroos: foi «injusto» que o argentino tivesse ficado (embora por uma unha negra) à frente do alemão.
 
A ideia forte que CR7 quis lançar no agradecimento diz tudo sobre a sua forma de ser. Sobre o modo como encara o futebol, a profissão, a vida.
 
Ao agradecer a terceira Bola de Ouro, apontou a próxima fasquia: apanhar Messi (quatro seguidas, entre 2009 e 2012) já em 2015. 

Se até 2013 parecia desequilibrado que Messi já tivesse quatro e Cristiano só uma, a partir de agora as coisas estão mais equitativas: 4-3, com CR7 a prometer igualar já para o ano.
 
Os grandes campeões têm sempre um objetivo, não descansam sobre os louros.
 
Quando a primeira reação de quem é, pela terceira vez, reconhecido como o melhor futebolista do Mundo, é dizer «agora quero a quarta e já estou a trabalhar para isso», encontramos aqui muito mais que uma estratégia. Está definido o perfil de um campeão, a explicação que nos mostra porque é que alguns, muito poucos, chegam muito mais longe do que outros que até teriam habilidade, arte, valor, potencial, relativamente idêntico.
 
Desde 2007, Cristiano Ronaldo foi sempre um dos três primeiros do Melhor do Mundo FIFA e desde 2008 que está sempre nos dois melhores (aliás, em 2007, também foi segundo, atrás de Kaká, mas só para a France Football, no prémio da FIFA ainda ficou atrás de Messi).
 
A partir de agora, com três Bolas de Ouro no seu pecúlio, CR7 parece destinado a ser o melhor futebolista português de sempre. Se apanhar Messi em 2015, começa também a candidatar-se a ser um dos melhores do Mundo de todos os tempos.
 
Querer é poder? Sabemos que nem sempre. Mas a este nível de alta competição, uma certa «resiliência de campeão» conta muito.
 
O «código Cristiano» implica talento, claro, um talento imenso. Capacidade atlética aliada a um trabalho intenso, quase obsessivo. Mas mais do que isso: determinação, resiliência e um modo de encarar a vida que aponta para o próximo objetivo, mais do que para a satisfação pelo que já foi atingido.
 
Cristiano Ronaldo não é só um dos mais dotados futebolistas profissionais de sempre. No ponto de vista estritamente técnico, até encontraremos alguns exemplos na história do futebol de executantes mais habilidosos.

Um deles, curiosamente, foi «apanhado» por Ronaldo com três Bolas de Ouro e tinha revelado, nas suas funções de presidente da UEFA, que preferia ver um alemão ganhar este ano: Michel Platini, é claro.

Messi tem mais «talento puro» que Ronaldo? Sim, concordo. Mas Cristiano é muito mais completo: nos «skills» que revela em campo (remate, cobrança de livres, assistências, finta, penáltis, jogo de cabeça, velocidade…) e em parâmetros mais difíceis de mostrar de forma objetiva, mas que se identificam ao longo de uma época, de várias épocas: a continuidade (é um jogador para o ano todo, não só para alguns jogos); a regularidade (é muitas vezes decisivo); a competitividade (quer sempre, sempre, ser o melhor).

Independentemente da opinião de cada um, os factos estão aí: a última década futebolística foi marcada por esse duelo CR7/Messi. Ele talvez dure mais um ou dois anos, completando assim a tal década de rivalidade planetária.
 
Mais influente no Real Madrid do que Messi no Barcelona, fundamental para a Seleção portuguesa (capitão, melhor marcador, peça decisiva no apuramento para o Brasil, ainda que tenha sofrido algum «contágio negativo» na fase final do mundial, prova em que jogou ainda sem estar a 100%), Cristiano é daqueles casos, raros, que pode decidir sempre, desde que esteja em campo.
 
Há uma discussão eterna, que nem o avanço da ciência responde por completo, sobre o grau de herança à nascença ou de aquisição pelo treino das qualidades desportivas.
 
No caso de Cristiano, há dois vetores que se notam à distância: é um atleta de eleição, que herdou já condições físicas propensas à alta competição; mas o que o torna muito melhor que os outros provém, em grande parte, do seu trabalho, da sua determinação, da obsessão com que, diariamente, se prepara para ser o melhor.
 
Se isso são características muito «portuguesas» ou não, isso já é outra discussão. Mas que é um grande orgulho que um dos melhores futebolistas da história seja português, lá isso é.
 
Festejemos com CR7 e tentemos tirar do seu exemplo os ensinamentos que nos possam tornar um pouco melhores, também.
 
«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?