1. Há derrotas e derrotas. Há eliminações e eliminações. A primeira parte do FC Porto em Munique não foi «azar» ou «infelicidade» (pelo contrário, o primeiro do Bayern até podia ter chegado mais cedo, naquela bola ao poste de Lewandowski, após defesa de Fabiano a remate de Muller). Perder na casa do Bayern é normal para qualquer equipa do Mundo. Não se esperava, de modo algum, era que o FC Porto, depois da grande exibição no primeiro jogo, falhasse por completo o ataque às meias-finais. Na Alemanha viu-se um Bayern a fazer o que quis, virando, com incrível facilidade, o resultado negativo do Dragão. Entre o 1-0 e o 5-0, o Bayern resolveu a coisa em 25 minutos. O golo de Jackson aconteceu na primeira oportunidade do FC Porto no jogo. Resta saber que mazelas haverá da humilhação de Munique para o dragão na Luz, no próximo domingo.

2. O Bayern chegou ao 5-0 com demasiada facilidade. O primeiro golo chegou cedo (14), o FC Porto nunca mostrou capacidade de pegar no jogo e ameaçar o ascendente alemão (primeira parte completa sem fazer um único remate). Os golos foram-se sucedendo perante uma passividade que não era, de todo, expectável. Normal que o FC Porto aparecesse no Allianz Arena cauteloso, mas a partir do 2-0 já nada havia a gerir. Aquela primeira parte deixou bem claro que o Bayern, mesmo sem Robben, Ribéry e Schweinsteiger, é muito melhor que o FC Porto. No segundo tempo, consumada a decisão da eliminatória, o Bayern desacelerou, mas o FC Porto demorou a aparecer. Jackson (notável como sempre) ainda fez o 5-1 aos 73, reforçando a ideia de que um FC Porto mais ousado poderia ter, pelo menos, saído de Munique com uma derrota menos impressiva. Com a entrada de Rúben Neves, o meio-campo ficou mais apoiado. Jackson ia fazendo o 5-2 com quarto de hora para jogar. Mas a bola não entrou e, na verdade, o Bayern não chegou a tremer. O 6-1 final diz tudo sobre isso. De todo o modo, chegar aos «quartos» da Champions é uma excelente campanha para o FC Porto. A soma de 7-4 nas duas mãos é normal. Ser goleado assim é que era escusado.

3. A exibição do FC Porto no Dragão, frente ao Bayern, merece entrar no «top ten» dos melhores momentos do futebol português nos últimos anos. Quem diria que, seis dias depois, iria acontecer o pesadelo de Munique? Vitória com três golos nascidos de erros defensivos quase infantis (Xabi Alonso, Dante, Boateng)? Bayern sem meia equipa habitualmente titular? Certo. Mas nem essa conjugação explica um triunfo de dois golos sobre o super Bayern, que mesmo tão desfalcado começou com seis campeões do Mundo. Coisa pouca. O FC Porto chegou com alguma felicidade ao 2-0 antes dos dez minutos, teve retração normal depois disso. Levou o 2-1 (muito por culpa dessa retração), mas o grande momento do jogo foram aqueles 20/25 minutos de arranque da segunda parte, fase em que os dragões impressionaram pela intensidade e pela forma como soube ser claramente superior ao Bayern. Jackson (que obviamente fez um plano de recuperação e treino especial para a «operação Bayern») e Quaresma provaram, uma vez mais, que são talentos e profissionais de exceção.
 
4. Os constrangimentos do Belenenses frente ao Benfica foram mais uma prova evidente (e um bocadinho deprimente) de como os jogadores emprestados não deveriam mesmo defrontar os clubes aos quais estão ligados contratualmente. O problema tem anos, não é de agora, mas tem tido repetições demasiado óbvias esta época: Kayembe não pôde jogar pelo Arouca no Dragão; Tiago Rodrigues teve... gastroenterite e não pôde defrontar o FC Porto pelo Nacional; na primeira volta, Deyverson e Miguel Rosa também «não puderam» defrontar o Benfica pelo Belenenses. Houve mais casos e o «pecado» é comum a quem pode aproveitar-se dele. Em contracorrente, Tozé, extremo emprestado pelo FC Porto ao Estoril na sequência do negócio de Evandro, até marcou de penálti o empate que deu no 2-2 da primeira volta. Entre a falta de regra e a desculpa esfarrapada para ausências difíceis de explicar, o melhor mesmo era acabar de vez com a questão. Não acabar com os empréstimos (é bom para os jogadores e para os clubes que os recebem que isso possa continuar a acontecer). Mas acabar com a hipocrisia, isso sim, dava jeito.
 
5. A derrota em casa com o Arouca foi o «canto do cisne»: é agora perfeitamente claro que o Penafiel vai mesmo descer à II Liga. Nada de muito estranho nem inesperado, creio que nem mesmo para os adeptos da equipa duriense. Tenho um respeito especial pelo profissionais que vivem períodos como o adeptos da equipa duriense. Tenho um respeito especial pelo profissionais que vivem períodos como o que os jogadores e treinadores do Penafiel vão viver até ao fim da época: como manter a motivação e a dignidade nas últimas cinco jornadas?
 
«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?