Cinco ideias do que ficou do primeiro clássico da Liga 15/16:
 

1. André André, herói improvável de coração enorme
 
Neste FC Porto ano II de Lopetegui, as opções de qualidade são tantas que estaria longe de ser um dado adquirido que André André fosse, nesta altura, uma unidade crucial.
 
Mas a verdade é que é. O médio ex-V. Guimarães, filho de um dos melhores médios das últimas décadas do FC Porto, mostrou no clássico com o Benfica como é importante juntar à qualidade valores como a determinação, a vontade e o amor à camisola.
 
Impossível pensar assim no futebol de hoje? Nem sempre. O grande jogo de André André, coroado com o golo pleno de oportunidade e crença, explica-se com os condimentos acima referidos.
 
Antes do clássico, poucos arriscariam lançar André André como o homem que iria resolver o jogo. Vendo o decorrer da partida, transformou-se num herói improvável de coração enorme.
 



 
2. O Benfica teria que ser nos 90 o que foi na primeira parte
 
O Benfica fez uma bela primeira parte. Chegar ao Dragão e entrar dominante não é para qualquer equipa.
 
Mitroglou podia ter inaugurado o marcador, teve duas oportunidades para isso em golpes de cabeça que exigiram boas intervenções de Casillas.
 
A aposta de Rui Vitória em manter a estabilidade tática (4x4x2) revelou-se acertada, ainda que tenha tido duas ‘nuances’: André Almeida foi unidade importante para um meio-campo de cuidados redobrados, ao lado de Samaris; Jonas, muitas vezes, atuou atrás de Mitroglou.
 
O que faltou ao Benfica no Dragão? Prolongar nos 90 o que de bom tinha feito nos primeiros 45.

Para uma equipa que é bicampeã, a exigência é mesmo essa.
 
 

3. Acreditar até ao fim pode contar mesmo muito
 
Foi um pouco esse o mérito do FC Porto.
 
Depois de uma primeira parte com algumas falhas no plano tático, a equipa de Lopetegui soube reagir, mostrou enorme coração, nunca desistiu.
 
O FC Porto aumentou o ritmo no segundo tempo, encostou o Benfica às cordas, mostrou que o fator casa e o apoio do público continuam a ser dados relevantes no futebol, sobretudo em jogos com esta intensidade emocional e quase 50 mil nas bancadas.
 
Na globalidade, o FC Porto não foi muito melhor que o Benfica em jogo jogado. Mas revelou muito maior vontade de vencer o clássico e isso, no final, foi determinante.
 
Por não se ter contentado com o empate, saiu premiado com o triunfo.
 
 

4. Seis portugueses começaram o clássico (e outros três juntaram-se a ele)
 
É uma tendência que nos últimos anos rareava e que merece, por isso, ser destacada: este FC Porto-Benfica, primeiro clássico de um campeonato que está a começar com dados muito positivos, começou com seis portugueses entre os 22 titulares.
 
Quatro do lado encarnado (Nélson Semedo, Eliseu, Gonçalo Guedes e André Almeida), outros dois no campo portista (Rúben Neves e André André).
 
E ainda entraram mais três: Danilo Pereira e Varela, no FC Porto, e Pizzi, no Benfica.
 
Mais: não foram protagonistas menores deste duelo maior do futebol português.
 
André Almeida teve influência positiva no «estancar» do jogo portista, sobretudo na primeira parte; Nélson Semedo voltou a mostrar que é uma das revelações desta época; Rúben Neves assinou belísima exibição no meio-campo portista e André André, claro, foi o homem do jogo, aquele que resolveu a partida no momento decisivo.
 
Varela, entrado em fase de tudo ou nada, teve intervenção fundamental no lance do golo de André André.
 
Nove portugueses no clássico: um sinal que deve ser lido com atenção.
 
Tudo indica que, nos próximos anos, será ainda mais assim.  
 
 



5. A aposta de Rui Vitória na integração competitiva dos jovens valores é para levar a sério
 
Rui Vitória perdeu o seu primeiro clássico, sim.
 
Mas terá ganho outras coisas, apesar da derrota no marcador.
 
Montou bem a equipa, desenvolveu estratégia adequada à dificuldade de enfrentar um jogo no Dragão. Não abdicou dos princípios de jogo e da tática que claramente assumiu para a sua equipa.
 
E mais: manteve Gonçalo Guedes (e Nélson Semedo também) no onze, confirmando que é mesmo para levar a sério a sua aposta de integração competitiva dos jovens valores portugueses que o Benfica tem nos seus quadros.
 
Para um treinador do Benfica, isso não chega: é preciso, ao mesmo tempo, ganhar. Mas se fizer esse caminho com o «extra» de lançar para a alta competição os futuros talentos da Luz, marca ainda mais pontos. É mesmo por aí.
 

«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?