Dúvida 1: o ponto perdido pelo Benfica em relação ao FC Porto será relevante para a batalha final pelo título?

Se, em termos matemáticos, Lopetegui tem razão em deitar foguetes, lembrando que há muito tempo que a sua equipa não dependia apenas de si própria, o facto é que para que isso seja mesmo verdade os dragões precisam de ganhar por 0-2 na Luz e passar à frente dos encarnados no saldo de golos ou então ganhar mesmo por 1-3 ou 0-3. Nada fácil, portanto. A derrota do Benfica em Vila do Conde (depois de estar a ganhar 0-1) e o empate do FC Porto na Choupana (após situação de vantagem de 0-1 e com o aliciante de, ganhando, ficar apenas a um ponto do Benfica) mostraram que águias e dragões têm, afinal, mais fragilidades do que pensavam. E do que nós pensávamos. Sim, são sem dúvida as melhores equipas desta Liga 14/15. Mas a diferença não é assim tão gigantesca que dê a garantia, que muitos já estavam a dar, que até ao clássico da Luz não ia haver mais pontos perdidos pelos dois candidatos.


Dúvida 2: até onde chegaria o Rio Ave neste campeonato se não tivesse tido o «extra» europeu?

A resposta da equipa de Pedro Martins na segunda parte com o Benfica foi dos melhores momentos coletivos que já vi nesta Liga 14/15: poderosa, confiante, baseada em trabalho bem feito e na qualidade individual de dois nomes (Diego Lopes e Del Valle). Esta jornada mostrou que há três desilusões a sublinhar neste campeonato: o Gil (que tinha que pontuar em Arouca e não foi capaz de sonhar com isso); o V. Setúbal (que não foi além de empate em casa com o Paços, perdendo oportunidade de ouro de se distanciar claramente dos lugares de descida); o Estoril (a anos luz da qualidade das épocas com Marco Silva e que só não perdeu em casa com o último pelo fôlego final que levou ao 3-3). Já o Boavista, consistente a pontuar em casa, praticamente se salvou à 26.ª jornada com o triunfo sobre o Belenenses, o que é notável, para quem era visto, no início, como o patinho feio da prova. Não está a ser.



Dúvida 3: o FC Porto terá alguma hipótese de sonhar com as meias-finais da Champions?

A resposta com o Basileia nos «oitavos» foi de grande qualidade, sobretudo na segunda mão. E nem me parece justo considerar que o 4-0 no Dragão será de menosprezar, por ter sido perante uma equipa suíça em baixo de forma e sem dimensão para aquela fase da Champions. Mas o Bayern Munique talvez fosse, a par do Barcelona, o menos desejado entre os indesejados para enfrentar nos «quartos». Entre os sete possíveis adversários, creio que o FC Porto seria favorito com o Monaco. Perante Juventus, At. Madrid e PSG, a equipa portuguesa não teria favoritismo, mas poderia perfeitamente passar. O trio a evitar era, claro, Bayern e os dois colossos espanhóis. Talvez o Real um pouco menos indesejado que o Barça, pelo momento de forma dos «merengues». Mas todos sabemos que, numa equipa como o «Madrid», isso poderia ser apenas uma questão ilusória. Receber o Bayern no Dragão antes do jogo na Alemanha pode ser bom. Não estou a equipa de Guaridola a golear em casa do FC Porto. Um resultado equilibrado é possível e isso abre, pelo menos, o apetite para o encontro em Munique. A prova de fogo de Lopetegui será o mês de abril: nem vai haver tempo para respirar!
 

E agora duas certezas, ambas em jeito de notas finais:  

a eleição de Fernando Gomes, presidente da FPF, para o Comité Executivo da UEFA, à primeira volta e com 48 votos em 54 possíveis, é o reconhecimento de um trabalho sólido e que recoloca o futebol português no plano que merece;

o jornalista António de Sousa, falecido há uma semana, foi um exemplo de liderança, sensatez e competência. Profissional da geração anterior ao universo online, acompanhou, como leitor, com entusiasmo e atenção crítica o aparecimento e evolução do Maisfutebol. Até Sempre e muito obrigado.



«Nem de propósito» é uma rubrica de opinião e análise da autoria do jornalista Germano Almeida. Sobre futebol (português e internacional) e às vezes sobre outros temas. Hoje em dia, tudo tem a ver com tudo, não é o que dizem?