O termo cultura organizacional não é novo para o mundo do desporto e acaba por ter muito mais peso no sucesso (ou insucesso) dos clubes do que se possa imaginar. Mas isto não significa que os presidentes dos clubes acabem por tomar decisões considerando de modo consciente o equilíbrio entre a cultura organizacional do clube, o perfil de liderança do presidente e os valores do treinador enquanto treinador/pessoa.

E se pensarmos de modo mais estruturado percebemos que um equilíbrio entre todos estes três ângulos é fundamental para o sucesso de todos. Internamente temos bons e menos bons exemplos desse equilíbrio. Esta semana assistimos a uma chicotada em Braga, com José Peseiro a ser afastado por ter ficado afastado de mais dois objetivos do seu clube face ao afastamento da Taça de Portugal e da Liga Europa. A juntar a isto não nos podemos esquecer da derrota no início da época frente ao Benfica para a Supertaça.

Isto significa que o treinador português é mau treinador? Claro que não. Mas a cultura exigente de António Salvador é de incrementar o Sp. Braga como o atual quarto clube de Portugal no futebol nos tempos que correm. E para lá disso ir sempre o mais longe em todas as taças onde esteja a participar e cada vez estar mais presente na luta pelos três primeiros lugares. Se são objetivos exequíveis ou não, teríamos de analisar um conjunto vasto de fatores e indicadores de sucesso.

Mas o que é isto de cultura organizacional de um clube? É aquilo a que nos vamos habituando a observar no ‘como’ os clubes consideram que conseguem estar mais perto dos seus objetivos. Os valores internos, os comportamentos, as rotinas laborais, etc. No FC Porto isso foi muito visível nos últimos anos com o alinhamento entre tudo aquilo que era o clube em representação de uma região e depois na conquista da Europa, tendo-se perdido recentemente.

Com Luís Filipe Vieira percebeu-se que houve uma credibilização dos valores benfiquistas e uma maior aproximação àquilo que o Benfica deseja com a troca de treinadores. O regresso de Rui Vitória à Luz permite na opinião da estrutura benfiquista estar mais próximo do modo como o clube baliza os seus objetivos. O mais interessante dos três grandes é na minha opinião o caso sportinguista. Não há muitas dúvidas que Bruno de Carvalho e Jorge Jesus têm um alinhamento naquilo que são os objetivos internos, parece que externamente o alinhamento é menor, mas a questão mais interessante para discussão seria saber se Bruno de Carvalho está a alterar a cultura organizacional do Sporting, se está a fomentá-la ou está tudo alinhado. Claro que esta discussão está sempre agarrada àquilo que são as conquistas de títulos ou não. E um clube é muito, mas muito mais que futebol. Mas estamos em Portugal e por isso, não nos podemos esquecer que as bestas e os bestiais andam sempre de mão dada às vitórias e às derrotas.

Voltando ao início. António Salvador estabilizou por cima a qualidade de um clube como o Sp. Braga. Os passos seguintes é que estão mais difíceis de estabilizar, o que até pode ser natural face à ambição do seu presidente. Um segundo lugar com Domingos, uma Taça Intertoto com Jorge Jesus ou uma Taça de Portugal com Paulo Fonseca permitem sonhar. Agora é saber quando é que esse sonho se torna mais realista.