Os que andam no desporto sabem que este meio tem algo de especial e de diferente de outros campos da sociedade. Nem tudo é bom, mas o desporto tem muitos valores e é algo que se entranha e depois perdura pela vida fora. Tem a vertente competitiva, da sorte, do jogo, das regras e da organização que nos apaixona. Para lá da competição propriamente dita, tem a componente do dirigismo que face aos desafios da sociedade e da ligação do desporto com o negócio, educação ou entretenimento, vai conquistando cada vez mais o seu espaço no sistema social e desportivo.

Mas este dirigismo é diferente do dirigismo da banca, da gestão pura e dura, do negócio dos restaurantes ou das viagens, só para dar alguns exemplos. É normal ouvir dirigentes desportivos que vieram de outros ramos a opinarem que a gestão e o dirigismo no desporto tem uma componente que não se encontra com esta dimensão noutros ramos: a irracionalidade, ou se quisermos, a emoção que impera em quantidades gigantescas no dia-a-dia ou no processo da tomada de decisão.

A emoção que nos faz vibrar com os resultados, com as vitórias, que nos faz chorar e ficar tristes com muitas variáveis em que nenhuma depende de nós. A emoção que faz com que um treinador de escalões infantis passe por vezes mais tempo a justificar-se aos Pais do que a dar treino. Que faz com que o projeto passe de bestial a besta com um golpe sofrido nos últimos segundos de competição. E que deturpe uma decisão lógica em vária decisões que não apresentam lógica nenhuma. E que faz com que algo que é ilegítimo passe a uma ação com naturalidade.

A juntar a isto, confrontamo-nos com a falta de formação da maioria dos dirigentes. Não apenas a formação do conhecimento, mas muitas vezes, a formação de saber o que é ter sido atleta, o que é conviver num balneário, o que é conviver com a dor do treino com um sorriso nos lábios ou simplesmente saber gerir recursos, sejam humanos sejam financeiros. E aqui levanta-se uma questão bastante pertinente: um dirigente, no amadorismo ou num ambiente profissional, deve possuir que competências? E falo das competências técnicas e comportamentais. A discussão à volta deste tema é tão pertinente quanto as consequências das constantes decisões que os dirigentes têm de realizar. Consequências para as suas entidades, para a educação e o futuro das crianças, das carreiras dos atletas.

Nos últimos tempos não têm acontecido mais ações ou decisões ilógicas ou irracionais de alguns dirigentes desportivos. Provavelmente essas aconteciam com muita regularidade em meios ou contextos onde a comunicação social não chegava ou não existiam as redes sociais para potenciarem uma qualquer notícia. Algo que referi no início do artigo vem, na minha opinião, juntar alguns ingredientes que se podem tornar menos agradáveis. O poder sempre foi e será aliciante para o ser humano. O protagonismo que o desporto ganha todos os dias nos milhares de horas e espaços que a comunicação social proporciona ao desporto. As escolinhas que proliferam como cogumelos. Dos muitos milhões que de repente um clube tem na mão para gerir. Há que repensar e agir a formação dos dirigentes que tomam decisões. E penso que falo por muitos quando – por exemplo –afirmo: quer os dirigentes do meu clube quer aqueles que gerem os clubes onde os meus filhos praticam desporto apenas para se divertirem.