A carreira de treinador não está imune às alterações que a sociedade incute e empurra os vários mercados a tornarem ações esporádicas em hábitos. A presente Liga portuguesa vai na 11.ª jornada e, a este ritmo, o número de despedimentos ou alterações das equipas técnicas vai ficar ou muito próximo da época anterior ou mesmo superar os números da época 2016/17.

O sentido de urgência é algo que os treinadores e empresas vão colocando na agenda de um treino ou de uma formação, com o objetivo que os atletas, gestores, todos nós, tenhamos a ideia do que é gerir o tempo, as várias fases de um projeto, de um jogo, o que é prioritário e como se deve gerir as emoções e as razões em momentos onde há menos ou mais tempo para pensar e decidir. Mas as últimas épocas desportivas, neste caso específico, têm alterado e adulterado tudo o que é racional ou aceitável na gestão de um planeamento ou objetivos de uma época desportiva e consequentemente, dos objetivos individuais, coletivos, desportivos ou de gestão.

Os dois eixos, que se cruzavam e estavam sempre dependentes um do outro, sendo que um representava o projeto desportivo e o outro o projeto de gestão, deram lugar a um eixo que está quase ou totalmente dependente dos resultados desportivos. Em que não interessa muito o investimento humano e estratégico para dar resultados daqui a uns meses ou épocas desportivas. Basta perceber o número de treinadores que completam duas épocas inteiras no atual futebol português para perceber que esta análise não é alarmista. É real.

E este fenómeno é tão ou mais evidente quanto mais se vai baixando na classificação. E por muito que isto nos pareça lógico, o passo seguinte é perceber que a substituição pura e dura de treinadores não resolve os problemas de fundo, que geralmente estão nas condições e na qualidade de planeamento com que se inicia uma pré-época. E isto traz ao treinador a necessidade de dominar uma competência para a qual o treinador não recebe ensinamentos durante a sua formação: estar preparado para mudar aquilo que são os seus pressupostos e bases de uma carreira de treinador, estar preparado para abdicar momentaneamente (ou regularmente?) daquilo que para si é prioritário em termos de conceitos de treinar para estar sempre a pensar no presente, que na verdade, passa a ser vencer semanalmente com a ameaça de que, aos primeiros resultados menos positivos, a decisão de terminar a relação laboral se faça sentir.

O problema, não sendo novo, é cada mais evidente. E já o tinha escrito aqui, qualquer pausa atualmente no calendário desportivo, como vai ser esta das seleções, é uma ameaça para os campeonatos profissionais.