Na antevisão ao jogo entre o seu Sporting e o Portimonense, colocaram a Jorge Jesus uma questão sobre a sua qualidade e eventual melhoria enquanto treinador com o acumular dos anos.

A resposta do técnico dos leões foi interessante:

«Um treinador evolui todos os anos, desde que seja criativo. Há técnicos que não o são, mas aqueles que têm capacidade para criar estão sempre a evoluir. Não tenho dúvida nenhuma de que me sinto muito mais treinador ano após ano. Também é verdade que quem faz de nós melhor treinador são os jogadores. A qualidade de um técnico passa pela forma como consegues escolher e potencializar jogadores. Sinto que, às vezes, exagero porque quero fazer de um jogador mais do que aquilo que ele é. Acredito que sou capaz, mas às vezes exagero e erro.»

Jorge Jesus, tal como todos os treinadores, tem uma identidade própria, mas, neste caso, o que considero interessante e bom material de estudo – e as conferências de imprensa do líder leonino continuam a ser na grande maioria narrativas com bom material para análise – é que as suas afirmações são, em grande parte, divergentes da maioria dos treinadores com mais maturidade e experiência.

Vários estudos com treinadores de desportos coletivos e com diversos títulos durante a carreira, afirmam que a grande mudança que vão sentindo ao longo das carreiras passa pela viragem das suas intervenções quase em exclusivo para o teor da atitude e para o modo como os atletas se entregam.

Especialmente desde que chegou ao Benfica, onde todas as ações e intervenções ficaram mais expostas e possíveis de analisar, Jesus assumiu um lado quase obsessivo pelas questões técnicas e táticas. O técnico dos leões encara o atleta como um pacote completo em que se inclui logicamente o lado humano e da vertente mais comportamental, mas sempre com uma preferência explícita pelo trabalho de campo.

A maioria dos treinadores passa de uma liderança mais focada na tarefa e no que cada atleta tem de realizar para uma liderança e intervenção mais flexível, em que a prioridade passa mais para o campo da atitude e do estado emocional do atleta. Já Jorge Jesus mantém, ano após anos, este registo, baseado num perfil específico de liderança: o modo como o treinador considera que as coisas devem ser feitas é, quase exclusivamente, o modo correto.

Jesus assume não só que a experiência é um veículo para o maior conhecimento, como faz uma relação de causa-efeito, quando diversos estudos apontam para o contrário. Não se trata de colocar em causa as afirmações do técnico ou os próprios estudos, mas sim perceber mais uma vez que as narrativas dos treinadores deveriam permitir a sua própria investigação. Não existe apenas um caminho para chegar a Roma.

Por último, esta convicção, que em alguns momentos é tão impactante, também estará relacionada com algo que já aqui escrevi diversas vezes: a inflexibilidade e incapacidade de estar predisposto para adaptar-se aos outros, crendo que deverá ser sempre o contrário a ter lugar. Algumas situações demonstraram que mais do que a convicção que as coisas devem ser feitas de determinada forma, devemos primeiro perceber quem são os intervenientes incluídos nas situações e qual o contexto em seu redor.

É aqui que está outra área boa para se tentar perceber e investigar. Mas lá dentro, a conviver todos os dias com o treinador Jorge Jesus.