Existe quem defenda que apenas podemos falar da liderança de alguém se conhecermos essa pessoa ou estivermos nos momentos em que essa liderança é exercida. Mas aí, ao falarmos com o suposto líder, o que recolhemos é um auto-retrato. Que tem tanta validade quanta assertividade a pessoa tiver consigo. E aqui para nós, não é nada fácil encontrar alguém que consiga ter uma perceção da «realidade» emitida semelhante à «realidade» rececionada. Por isso um dos melhores modos de entender essa mesma liderança é perceber as suas ações e indagar junto dos liderados o que o líder – na opinião destes – faz.

Posto isto, volto ao tema Nuno Espírito Santo. Escrevi neste espaço e noutros espaços sobre o treinador do FC Porto logo no início da sua aventura. Que me parecia que o treinador apostava muito num agente facilitador que era o seu discurso inclusivo, global e agregador. E que isto não colocava nada em causa o seu conhecimento do futebol e do ato de liderar. Mas que ao apostar nesse agente facilitador, teria de o dominar. Porque estaria a responsabilizá-lo como o meio que possibilitaria chegar a um fim.

E que na minha opinião – vale o que vale – o discurso não era totalmente genuíno e que facilmente se retiravam dicas sobre um ensaio, que até poderia estar bem ensaiado, mas não passava disso: um notório ensaio que teria somente impacto enquanto os resultados fossem positivos.

Uma pessoa da estrutura do FC Porto perguntou-me porque dizia isto. Tentei explicar que não colocava em causa a pessoa NES. E tão pouco as suas ideias para o terreno. Mas que tinha ali a sensação que a coerência estava longe de ser atingida e que o seu modo de incluir todos poderia não ser ajustado se encontrassem muitas pedras no caminho. Vários estudos dão-nos quase duas certezas: o discurso de um treinador e a relação que ele consegue construir com os atletas é o que mais pode motivar e elevar o desempenho dos atletas; e das características que os atletas mais destacam como positivas nos seus treinadores é serem genuínos.

Eu acredito que as coisas não ficarão como estão. E com isto não prevejo se vai ou não vai melhorar. O que podemos pressupor é que existem alguns denominadores comuns e que isso pode ser preocupante. A ansiedade, os discursos menos apelativos e o facto de a exibição mais conseguida nos últimos tempos ter sido frente ao Benfica. Por um lado demonstra que há qualidade no clube portuense, mas por outro lado a imensa motivação frente aos encarnados, ou a falta de foco frente aos outros adversários, também pode – na minha opinião – ter que ser analisada de modo mais profundo.

Há necessariamente que aumentar as sinergias no plantel do FC Porto: entre a experiência e maturidade com a juventude. E neste momento parece-me que os experientes no FC Porto, como Casillas, Maxi, Herrera, etc. não estão a conseguir assumir a liderança necessária para que os mais jovens se sintam ainda mais confiantes. Porque a qualidade está lá!