A célebre e tão utilizada expressão «contra tudo e contra todos» aparece geralmente em momentos em que quem a expressa se encontra a lutar por algo e num timing bastante importante. Na sua opinião, todos os esforços devem ser alinhados em prol de algo. Mas se pensarmos bem, esta é uma técnica de motivação (?) que apela à necessidade de demonstrar contra todos ou contra tudo que somos melhores que o «mundo» todo, que de modo alinhado está contra nós.

Mas se analisarmos ainda de modo mais profundo a expressão percebemos que, mesmo que se trate de algo parecido com uma técnica de motivação, é uma técnica de motivação extrínseca. E para quem estuda e acompanha estas áreas, percebe que a técnica, força, elo ou o que for, mais eficiente na área da motivação é trabalhada para que os atletas e as equipas busquem no seu interior (motivação intrínseca) um real e importante motivo para que o atleta e a equipa queiram continuadamente realizar esforços para alcançar os objetivos. Individuais e coletivos.

Mas a frase deve então ser retirada do léxico dos treinadores ou dos atletas? Não é tanto por aí. Diria que devemos investir esforços para que os atletas e as equipas encontrem nelas próprias razões e motivos para que consigam durante mais tempo investir o seu foco e energia.

A frase do contra tudo e contra todos implica encontrar ou tornar os outros num inimigo. Se isso serviu em tempos para obter sucesso? Sim. Mas havia qualidade nos intervenientes. Não foi certamente através da frase. Hoje, sem qualidade, essa frase torna-se obsoleta. Quase que vã. Investem tempo e energia a encontrar inimigos para ganharem mais raiva e emoções contra alguém e outros investem tempo e energia para serem melhores que ontem. Na vida e no desporto, é um pouco assim. O principal adversário, no desporto e na vida, está dentro de nós. Os outros só serão adversários quando internamente tivermos os nossos processos bem resolvidos.

Vemos que os atletas não entendem isto. Que não investem tempo a perceber a real importância de perceber o processo das coisas que acontecem à sua volta ou que eles conseguem potenciar. Ao não entenderem o processo, eles não entendem o real poder das suas decisões e razões/emoções. Mas pudera, se todos nós nos queixamos da falta de tempo para tudo, mas mesmo assim os próprios treinadores passam a vida a ver fantasmas aqui e ali, onde vão encontrar o tempo e as técnicas para trabalhar a autodeterminação? A teoria da autodeterminação é um tema fantástico. Só para apimentar o tema, é um denominador comum dos profissionais que conseguem ser geralmente os melhores nas suas profissões. E no desporto também. Nos desportos individuais e coletivos. E esses percebem o poder do auto. Autodeterminação, auto-organização, automotivação, autoconsciencialização, etc.