Este fim de semana tive o privilégio de falar para uma plateia de desportistas. Mas não era uma plateia comum! Pelo contrário, era espetacular. Desportistas dos seis anos para cima. Lá atrás estavam os pais. Dirigentes. Confesso que, apanhado de surpresa, não estava preparado para este enorme desafio.

Optei por contar três histórias e adaptar e relacionar com a prática desportiva deles. E a primeira foi esta:

«Um casal vivia com a sua filha de dez anos e com o avô da menina. Um senhor já de idade. Em todas as refeições, o casal chamava a atenção para o modo como o avô comia. Em cada tentativa de uma garfada ou colherada, metade da comida caía do garfo ou colher e sujava tudo. E de refeição em refeição a situação piorava. Umas vezes era a mãe outras o pai, que chamavam à atenção para a limpeza, o desperdício da comida, etc. Certo dia, a menina quando se sentou na mesa, reparou que o avô já não tinha um prato para comer, mas uma tigela enorme que mais parecia um balde. Percebeu, considerou ela, que era para a comida que caía dos talheres e da boca do avô, cair novamente na tigela e não no chão ou na mesa. Mas a imagem não era gira. Era triste, pensou ela. E o avô nem reagia, aceitava aquilo como um mal menor. Um requisito para poder comer juntamente com a família.

Certo dia, os pais preparavam-se para ir passear com a sua filha e começaram a chamá-la porque estava na hora de ir. Mas a filha não saía do quarto, até que em determinada altura, os pais abriram a porta e repararam que a filha guardava alguns baldes em baixo da cama. Os pais, estupefactos com aquilo, perguntaram porque a filha estava a guardar baldes. Ao que ela respondeu: «Então, quando chegarem à idade do avô, já vão poder comer na minha mesa.»

Os exemplos funcionam muitas vezes assim. Observação, repetição, aquisição de hábitos. Nem sempre pensamos no que está certo ou errado, o que é um erro ou não. Escrevo esta crónica, mais ainda por alguns momentos tristes que se passaram no desporto este fim de semana. Mais uma agressão a um árbitro num jogo de infantis. Mais discursos incendiários. Os adversários dentro do próprio clube vistos como inimigos. A cegueira que permite que tudo seja permitido.

Depois venham dizer que uma criança não pode refilar com o árbitro quando o seu treinador ou os seus encarregados de educação fazem mil vezes pior. Que um adepto deve ser castigado por isto ou por aquilo, quando dirigentes fazem figuras que a comunicação social replica vezes sem conta, sem que isso nos sirva para aprender, mas sim para ver cada vez mais seguidores a repetir e a repetir.