Este é um artigo sobre os miúdos e os minutos do Benfica. Dos jovens que entraram nesta e na época passada e que raramente tremem. Se jogam mal ou menos bem por vezes é outro tema. Mas o denominador comum durante o trabalho de Rui Vitória no Benfica tem sido este, relativamente aos jovens que o treinador português vai lançando na equipa benfiquista: Ederson, Nélson Semedo, Grimaldo, Lindelof, André Horta, Renato Sanches, Gonçalo Guedes e, porque não, também Cervi. 

Ainda neste domingo no Dragão lá estavam alguns deles (mérito também para o Nuno Espírito Santo com André Silva, Diogo Jota, etc.). Um na baliza, dois na defesa, um a extremo e outro no apoio ao avançado. Depois ainda entrou mais um. E o que há de curioso nestes acontecimentos constantes é perceber que a ciência vai demonstrando que estas cognições dependem – claro que o jogador tem de ser talento, qualidade, autonomia e ser exigente – do relacionamento e do tipo de comunicação que o treinador consegue estabelecer com os jovens jogadores.

Percebe-se que não há medo de errar. E isto não significa que o erro seja sempre tolerado, mas o facto de não existir medo de errar possibilita uma maior propensão para enfrentar o possível erro (e possível sucesso) com mais à vontade. Isso tem impacto na confiança e na auto-responsabilidade com que se avança para as diferentes tarefas.

Rui Vitória é um treinador que geralmente durante o seu discurso (naquele que nos é possível observar) dá sempre um enfoque positivo e construtivo. Não acredito que lá no seio dos treinos e no balneário não chame os jogadores à razão conforme o jogador erre. Todos o fazem. A questão é como o faz para provocar este à vontade quando são chamados a jogo e logo a grandes jogos, por exemplo. Mas durante o jogo há claramente uma propensão (como se sabe disto? quantificando-se as suas tarefas e colocando as mesmas nos distintos perfis comunicacionais) para existirem sinais positivos.

Não se trata de especulação. Nós não pegamos numa perspetiva de causa-efeito. Pegamos é no efeito e desconstruímos o processo para trás até chegar às causas. E mais uma vez a ciência diz-nos que os jogadores que apresentam estes sinais gostam e são estimulados por diálogos com os treinadores onde ambas as partes tenham possibilidade de argumentar, participar nas conversas, compreender o caminho até aos resultados que as suas tarefas originam. E acompanhados de palavras mais positivas e que se focam no que é preciso fazer e não no que está mal realizado. Em que as frases sejam mais abertas e não apenas fechadas e com isso exista uma hipótese de dialogar e não apenas receber o «débito» que o treinador tenciona passar para o jogador.

Por fim, e para que as temáticas não se confundam, este artigo nada tem a ver com o clássico. Não será um jogo bom ou menos bom que altera este trabalho de Rui Vitória, pois os dados pretendem demonstrar a regra e não a exceção.