Há quem diga que é difícil, outros que é mesmo muito complicado. Mas coisas difíceis são interessantes também por causa disso, porque cativam alguns. E é mais ou menos por aí que a realização de um processo de coaching a um treinador de primeira liga de futebol também pode cativar. Para se fazer coaching a um treinador de futebol é preciso garantir alguns fatores, sendo que escolheria principalmente dois: amar futebol e amar trabalhar com e para pessoas. E a predisposição para se trabalhar com pessoas é uma característica tão fundamental como muitas das vezes desprezada.

E é aí que poderia também começar o segredo de um bom treinador: amar aquilo que faz e o contexto onde o faz; e por outro lado amar as relações que estabelece com os jogadores, porque se os tratar como máquinas, o processo de treino e pseudo-liderança pode morrer por ali.

Pessoalmente tenho alguma dificuldade em conceber que alguém que trabalhe numa área que envolva a liderança de pessoas e de equipas, pela complexidade e ambiguidade em que é exercida, continue a trabalhar sem apoio para compreender melhor o que faz, como o faz, porquê, etc. A liderança do treinador é um dos campos de estudo mais fascinantes, num ambiente muito competitivo, cooperativo e onde o trabalho individual e coletivo estão interligados.

Vários estudos referem que os treinadores com mais hipóteses de serem campeões, possuem um conhecimento extenso mas específico nas áreas em que trabalham, têm uma capacidade fantástica de organizar o seu conhecimento pela importância que possui e analisam na sua mente factos que acontecem de modo estruturado. Memorizam e comparam desempenhos de atletas e competições com facilidade, têm o foco elevado na resolução de problemas e na deteção dos mesmos. Referem ainda que têm uma capacidade de se auto-analisarem mais exigente e regular.

Um treinador pode conseguir ter bons desempenhos em todas estas áreas, mas ser eficiente e perito em todas é difícil. Até de acordo com aquele que é o nosso perfil ou conjunto de comportamentos de liderança a que nos associamos mais, existem sempre ações que nos custam menos ou para as quais estamos mais sensibilizados. E depois existem outras áreas menos confortáveis ou em que não somos tão competentes.

Trabalhar e ajudar um treinador a realizar um simples processo de pergunta e resposta em áreas em que muitas das vezes esse diálogo acontece somente na sua cabeça ou é realizado com pessoas que estão muito imbuídas no processo, é um agente facilitador incrível. Encontrar indicadores de avaliação em áreas comportamentais que saem fora daquele padrão tradicional de formação e de saber-estar é deveras importante.

Partir de análises mais enquadradas e não tanto de perceções apenas individuais é necessário. O estudo do comportamento na liderança de treinadores ganha em incluir a exploração do sentido e significado que o treinador dá à sua liderança e um dos meios pode ser através da análise das suas ações, dos diálogos, de percebermos algumas crenças e sensações.

Partir de uma realidade parece-nos algo básico mas não é. Perceber qual a realidade que queremos analisar, o problema que nos impede de fazer algo de outro modo, como mudar e como o vamos realizar, é um processo magnífico. Hoje existem mais treinadores a darem importância a estas áreas. Mais interesse, mais pesquisa, mais coaching nas equipas desportivas de primeira e segunda liga.