«4x4x3» é um espaço de análise técnico-tática do jornalista Nuno Travassos. Siga-o no Twitter.         

Entre Milão e o Porto, o fim de semana vincou duas interrogações para Fernando Santos na preparação portuguesa para o Euro2016, associadas ao momento de forma de dois jogadores da espinha dorsal da equipa das quinas: Cristiano Ronaldo e João Moutinho.

O capitão de Portugal saiu da final da Liga dos Campeões com o palmarés enriquecido e a confiança (ainda mais) elevada, mas ao longo de 120 minutos deixou a ideia que, mesmo tratado com pinças nas últimas semanas, a pensar precisamente na undécima, termina a temporada com «amarras» evidentes.

É provável que, ao juntar-se ao estágio da Seleção, Ronaldo leve também as pinças na mala, com a participação nos jogos de preparação calculada através de uma equação que combinará a necessidade de repouso e o tempo mínimo para manter algum ritmo competitivo antes do Euro. Mas partindo do pressuposto de que estará clinicamente apto – assim esperamos -, Cristiano jogará sempre. Também pelo estatuto – que conta, não estamos aqui para enganar ninguém -, mas acima de tudo pela noção realista de que, mesmo assim, é um elemento imprescindível. E nesse sentido o desenho tático de Fernando Santos até «protegerá» Ronaldo, de certa forma, limitando o desgaste.

Mas quando falamos de João Moutinho o cenário é obviamente diferente. O médio habituou-nos a uma regularidade impressionante, época após época, e também por isso a lesão sofrida no tornozelo esquerdo, que motivou uma paragem de um mês (entre 11 de março e 24 de abril), condicionou o momento de forma atual. O jogo com a Noruega deixou a ideia de que Moutinho não consegue, por estes dias, ser a «formiguinha de trabalho» habitual. E neste caso, para o «8»,  o desenho tático de Fernando Santos é mais exigente, na medida em que aumenta o raio de ação comparativamente com o 4x3x3 que foi aplicado nos últimos anos.

Moutinho tem ainda duas semanas para melhorar a capacidade de resposta, mas aqui as alternativas dão outra tranquilidade a Fernando Santos, que até se pode dar ao luxo de empurrar André Gomes e João Mário para a as alas (ou mesmo Renato Sanches). Protagonista de uma temporada de grande nível ao serviço do Sporting, Adrien Silva seria o substituto natural de Moutinho, e frente à Noruega voltou a deixar boas indicações. Até porque, tal como Jorge Jesus em Alvalade, Fernando Santos quer um «8» que garanta equilíbrios, de sacríficio defensivo, mas também vertical na construção de jogo e capaz de oferecer opção de remate à entrada da área contrária.

Mas a duas semanas do início da participação portuguesa no Euro, e na esperança que não apareça mais nenhum problema físico significativo, as grandes interrogações estão associadas à condição de Cristiano Ronaldo e João Moutinho.