O clássico terá acabado com alguma réstia de dúvida que ainda existiria: a luta pelo título será, até prova em contrário, a dois, entre FC Porto e o Benfica.

Mais! O Sporting está também longe do segundo lugar e do apuramento direto para a Liga dos Campeões, e poderia estar também a olhar para cima à procura de Sp. Braga e Vitória Guimarães se estes não atravessassem igualmente uma fase de quebra. Com os rivais minhotos a mostrarem mais força, a crise talvez fosse ainda mais aguda lá para os lados de Alvalade.

A derrota no clássico confirma, deve dizer-se, o falhanço rotundo da temporada leonina numa altura em que ainda faltam 14 longas jornadas para o fim do campeonato.

No Dragão, a superioridade do FC Porto não foi tão evidente como no embate com o Benfica, e em que curiosamente deixou-se empatar. Houve sintomas do mesmo abanar no final, estabilizando depois em Casillas e nas duas (sobretudo a última) intervenções de enorme categoria que o guardião espanhol foi obrigado a fazer.

Desta vez, os portistas até têm de agradecer a algo que amaldiçoaram em alguns momentos da época: a eficácia.

O Sporting voltou a ser melhor na posse de bola, conseguiu mais remates e mais pontapés de canto, atirou uma bola ao ferro e ainda fez emergir o melhor de San Casillas. Marcou um golo. O FC Porto fez dois, criando bem menos. Só que na defesa, e aí terá estado a grande diferença, foi bem mais assertivo e cometeu menos erros.

Os dragões foram mais eficazes à frente das duas balizas e venceram. Ao entregarem a bola, puderam explorar a explosão de um Tiquinho motivadíssimo. O Sporting, muito longe da consistência da época anterior, cometeu erros infantis no primeiro golo e desenhou uma transição defensiva desastrada no segundo. O passe de Danilo é fantástico, mas os três defesas podiam ter feito melhor perante o sprint do avançado brasileiro.

A perderem por dois, os leões continuaram a lutar, aproximaram-se mais da baliza contrária, e a recuperação esteve por centímetros. Só que, mais uma vez, voltaram a falhar.

O grande desafio do FC Porto é agora dar continuidade ao resultado, ultrapassar a sua melhor série de vitórias (a actual) e conseguir um maior impacto ofensivo fora de casa, onde será certamente obrigado a algo que praticamente não precisou frente ao Sporting: ter bola, e criatividade o suficiente para demantelar defesas mais baixas. Claro que o moral disparou, mas não chega.

Em Guimarães, os azuis e brancos terão o próximo teste, de intensidade alta, embora Pedro Martins parta com equipa bem mais desfalcada do que aquela que tanto trabalho deu, por exemplo, aos leões na primeira volta. Já não terá Tiquinho, e não poderá contar com Marega e Hernâni, emprestados pelo adversário.

Numa fase importantíssima da temporada, os portistas estão encostados ao Benfica. Numa Liga que parece ser feita de crises, será o candidato a cometer menos erros aquele que festejará no fim.

O Benfica deu alguns sinais de retoma frente ao Nacional. O bis de Jonas é obviamente uma boa notícia, tal como a continuidade dada a Zivkovic e alguma maior frescura mostrada por Pizzi. Até Mitroglou, que perseguia o golo, conseguiu faturar. Os sinais de alarme não desligaram, uma vez que chegará agora à Luz um Arouca com moral em alta e logo a seguir o Dortmund, antes da visita a Braga, mas era importante quebrar o ciclo e, da sua perspetiva, reagir à pressão e recuperar a liderança. Rui Vitória está longe de poder ligar a velocidade de cruzeiro, mas, com o resultado confortável, viram-se algumas jogadas a fazer lembrar o passado recente, de um verdadeiro carrossel das unidades mais avançadas.

Já começam a faltar palavras para as temporadas de Leonardo Jardim no Monaco, novamente líder isolado, e Marco Silva, que com o modesto Hull ganhou todos os jogos em casa, incluindo no sábado frente ao Liverpool e logo depois de ter ido empatar a Old Trafford. Se o trabalho de ambos está longe de estar concluído, merecem todos os aplausos. No que diz respeito a Marco Silva, terá já conquistado a imprensa inglesa que tanto dele duvidara.

Com Leonardo, está também um Bernardo Silva de excelência, sério candidato a melhor jogador do campeonato francês e a já piscar o olho a outras ligas e ambições. Vénia aos três!