A entrevista de Pedro Proença ao «Record», há uns dias, é o absurdo do ano na arbitragem (exceto do ponto de vista jornalístico), pelo menos até este dia. Como 2014 está a terminar, é provável que o árbitro português volte a ser o melhor em qualquer coisa. Neste caso, o melhor a produzir coisas que prejudicam quem apita. Um absurdo, portanto.

Reli o texto e fiquei com duas ideias: 1) Pedro Proença está a pensar nele próprio; 2) ataca Vítor Pereira porque deseja arranjar espaço, nesta ou em outra estrutura da Federação Portuguesa de Futebol. Não era isto? Lamento, mas foi o que passou.  Pedro Proença tornou pública a ambição de indicar o próximo senhor dos árbitros. Tentou jogar o presidente da FPF, Fernando Gomes, contra o líder dos árbitros. E sugeriu a criação de uma nova vice-presidência, obviamente para ser ocupada por ele. Que ego!

Com um exagero que roçou o ridículo, Pedro Proença utilizou a palavra caos para descrever o que se passa na arbitragem. Curiosamente, depois disso nada de particularmente grave aconteceu. O sol continuou a nascer, a bola a rolar, os árbitros a acertar e errar. Era um caos pequenino.

Na mesma entrevista, Pedro Proença considerou «mau jornalismo» o que se disse e escreveu sobre a foto que tirou com o líder de uma claque. Má foi aquela decisão. Mau foi não ter percebido o impacto. Pior do que isso é tentar remeter a coisa para quem analisa, procurando tirar o corpo fora.

Face ao prestígio de que goza, conquistado com boas exibições e muito apoio nos momentos maus, Pedro Proença conseguiu enfraquecer o líder da arbitragem, Vítor Pereira. Não foi um qualquer que disse o que disse. Foi aquele que era até há pouco tempo o melhor do mundo, sem dúvida o mais relevante em Portugal.

Vítor Pereira acusou o toque. Compreendo que tenha acusado. Ele mais do que quase todos (e sobretudo muito mais do que Pedro Proença) sabe quanto a arbitragem melhorou nos últimos dez, vinte, trinta anos. Parte desse bom trabalho deve-se a Vítor Pereira. Negar isso é tentar esconder o óbvio.

Mas deixar perceber que tinha acusado o toque não foi bom.

Então o que faltou a Vítor Pereira desta vez? Respirar fundo. Várias vezes. Ao aceitar ser questionado em direto na televisão sobre a entrevista, tinha duas hipóteses: respondia com violência e descia ao nível de Pedro Proença ou escolhia a linha diplomática e razoável e passaria uma imagem de alguém que no fundo não consegue meter na ordem a principal figura do setor.

Falar, nesta altura, era uma opção sem vitória possível.

No fundo foi isso que aconteceu. Vítor Pereira perdeu. Mas Pedro Proença também. E a arbitragem mais do que ambos.

Vítor Pereira deve refletir sobre a forma como tem gerido os árbitros e a comunicação da arbitragem. Fazê-lo de forma serena e sem ruído. Fechar este incómodo Proença é uma tarefa que já deveria ter sido concluída. Manter viva a hipótese de processo ao árbitro é o contrário disso.

Ser árbitro é a mais difícil das funções no futebol. Não era preciso complicá-la com questões menores discutidas na praça pública, no tempo errado (a pré-época fez-se para estas reflexões). Pedro Proença e Vítor Pereira deveriam ser os primeiros a entendê-lo.

Com estes episódios, Pedro Proença e Vítor Pereira estão a fazer mal à arbitragem, mesmo que essa não seja a intenção de ambos. O que é lamentável, até porque perdem espaço para criticar os que atiram sobre os árbitros em busca de benefícios.