O Benfica conquistou o «tetracampeonato» num ano em que Rui Vitória teve muito para gerir, consoante os jogadores entravam e saíam do departamento médico. Se no último ano Jonas foi de longe a figura das águias e do campeonato, esta época uma lesão impediu-o de ser a estrela da companhia. Em 2016/17, as figuras encontram-se mais recuadas no terreno e são aquelas que mais minutos e menos lesões tiveram durante a temporada.

Pizzi é o expoente máximo dos sete destacados. Venha descobrir os restantes.

PIZZI

Se na última temporada foi um dos destaques por ter passado do meio para a ala, fruto do surgimento de Renato Sanches, nesta foi a figura por ter passado da ala para o meio, já que o «menino» do Seixal foi para Munique e o «substituto» André Horta se lesionou e obrigou à mudança de Pizzi para o lado de Fejsa.
O antigo jogador mais caro do Benfica, agora superado por Rafa e Jiménez, teve a sua época mais produtiva para o campeonato, quer em golos quer em assistências e quer em jogos. Pizzi apontou dez golos (bateu marca pessoal de 8), fez oito passes para golo e é totalista de jogos (33).
Mas os números não mostram tudo. Pizzi foi, talvez de longe, o jogador mais regular e mais influente na manobra ofensiva dos encarnados. Foi ele que assumiu a batuta na ausência de Jonas e após o seu regresso foi o que mais o ajudou a organizar as ideias atacantes do Benfica. Incansável em todos os momentos, o ex-Atl. Madrid foi o pilar de Rui Vitória, que nunca prescindiu dele para nenhum jogo. Nem quando chegou ao quarto amarelo à 10ª jornada, frente ao FC Porto no Dragão, o treinador o deixou limpar a série, tendo que forçar a expulsão com o Rio Ave à 15ª jornada, para cumprir o castigo na Taça e continuar na equipa. A época foi dele, foi o cérebro!
 

NÉLSON SEMEDO

Lá vai o Nélson para cima, agora o Nélson para baixo. Isto 90 minutos sem parar em todos os jogos que participou!
Depois de uma época em que prometeu muito no início, mas que uma lesão ao serviço da seleção adiou esse protagonismo, o lateral-direito dos encarnados confirmou a aposta de Rui Vitória e foi um dos melhores da temporada.
Até ao momento fez 31 jogos dos 33 possíveis para a Liga, falhando apenas um por castigo e outro por lesão. É uma das peças do xadrez que o treinador não abdica e dentro de campo mostrou que mereceu a aposta.
Se no capítulo da finalização apenas marcou um golo, e numa carambola com o Arouca, nos passes para golo foi um dos melhores com seis, sendo um deles no dérbi contra o Sporting, na Luz.
Foi o terceiro jogador mais utilizado, atrás de Lindelof e Pizzi, e melhorou defensivamente a olhos vistos com o decorrer da época. Foi, durante a ausência de 5 meses de Grimaldo, o lateral que mais profundidade deu aos encarnados e uma das formas do Benfica desmontar defesas contrárias.

LINDELOF

Estádio de Alvalade, minuto 66, livre para o Benfica: Lindelof surpreende ao pegar na bola para ser o executante da bola parada e...gela o estádio do rival com um livre cobrado de forma perfeita. Rui Patrício não teve hipótese, o Benfica empatava o jogo e somava um ponto precioso que baralhou as contas de Nuno Espírito Santo.
Aquele golo garantia a liderança ao Benfica, independentemente do que o FC Porto fizesse com o Feirense no dia seguinte. Os dragões escorregaram... e o Benfica embalou rumo ao Tetra depois do pontapé do sueco.
Mas a sua época esteve longe de ser só isso. Depois de uma excelente ponta final de 2015/16, o defesa viveu um «longo» defeso devido aos rumores sobre uma ida para o Manchester United, mas em campo correspondeu quase sempre. Intermitente no início, até pela mudança da direita para a esquerda e mudanças de parceiros (Jardel por Luisão e Eliseu por Grimaldo), mas foi acertando e voltou ao nível expectável. Na retina fica um corte com o Moreirense sobre a linha de golo, que impediu a desvantagem no marcador, numa fase decisiva da temporada. A defesa foi sempre a base de Rui Vitória e Lindelof foi sempre intocável: o mais utilizado, falhando apenas um jogo, em Arouca e por lesão.

MITROGLOU

Um Deus do Olimpo encarnou em Mitroglou no relvado de Braga, aos 80 minutos, e marcou o golo que recolocou o Benfica na liderança, ultrapassando uma das deslocações mais difíceis até final.
O grego já tinha sido uma das figuras da última temporada e nesta voltou a ser decisivo, ainda que na maior parte do tempo não tenha tido o seu parceiro Jonas ao lado. Teve muitos parceiros, maioritariamente Gonçalo Guedes na primeira metade e depois o Pistolas na segunda, mas foi apresentado sempre rendimento. É o melhor marcador com 15 golos, todos marcados dentro de área, e ainda fez um passe para uma finalização certeira. Apesar de ter menos golos no campeonato do que há um ano, Mitroglou apontou golos em momentos decisivos, como o já descrito em Braga ou o golo solitário que deu o triunfo em Moreira de Cónegos, a seis rondas do fim.
Antes tinha sido decisivo com Arouca, Chaves e também com o Braga na Luz, com dois golos em cada jogo, e abriu vitórias por 2-0 em Belém, Chaves e em casa com o Rio Ave. Curiosamente saltou para o banco nos últimos dois jogos e foi o seu substituto Jiménez a resolver.
É um matador por natureza e já provou que não treme em grandes momentos, aliás, a sua expressão mostra que raramente muda. Talvez tenha sorrido por ganhar o «tetra»!

ÉDERSON

Começando pelo que fez mal esta temporada: culpas no golo no Dragão, erro numa saída com o Arouca que lhe valeu a expulsão e mau domínio que o levou a cometer penálti sobre Bas Dost. Só que todos esses jogos acabaram com «resultados positivos» a favor do Benfica. Na Invicta, Lisandro salvou os encarnados aos 92’ e é obrigatório dizer que não fosse o guarda-redes brasileiro e o Benfica podia ter saído vergado do Dragão. Com o Arouca, apesar da expulsão, a equipa de Rui Vitória venceu por 3-0 e em Alvalade, Lindelof corrigiu o erro de Éderson.
O trabalho de guarda-redes é ingrato e quase sempre se recordam mais os erros do que as grandes defesas e as vezes em que são decisivos. E Éderson foi várias vezes! O brasileiro começou a temporada lesionado, quando voltou, em setembro, alternou com Júlio César entre as competições, até que à jornada seis agarrou de vez o posto e foi até ao fim, exceção feita ao jogo em Braga, em que estava castigado.
Foi determinante em vários momentos, como no jogo em casa com o Estoril, com defesas que seguraram resultados. Dentro dos postes é difícil de bater, muito rápido a sair para fazer manchas e excelente a sair da baliza em cruzamentos ou bolas bombeadas. Muito forte no jogo com os pés, sempre disponível para ajudar na primeira fase de construção ou para bater longo e com boa evolução esta época no controlo da profundidade, a sair da baliza para encurtar o espaço nas costas da defesa encarnada. Já é suplente do Brasil e a titularidade pode estar aí à porta.
No jogo do título voltou a ser fundamental, agora com uma assistência. Usou o seu pontapé longo para isolar Jiménez e os companheiros foram festejar com ele.

LUISÃO

O capitão conquistou o sexto título de campeão nacional pelo Benfica, o 18º título ao serviço dos encarnados e está a um do mais titulado Nené. Depois de um ano em que foi pouco utilizado, devido a uma lesão no braço, e em que a dupla Lindelof-Jardel se impôs, não era expectável que o Girafa fosse titular no xadrez de Rui Vitória, mas o treinador deu-lhe a titularidade. Só que lesionou-se em Tondela, logo na 1ª jornada, e deu lugar a Lisandro, que marcou nesse jogo. Voltou apenas em outubro, na 7ª jornada depois da goleada para a Champions em Nápoles, e nunca mais saiu do onze. Apesar de no Dragão ter saído por lesão, isso nunca pôs em causa o seu lugar, e foi calando os críticos, que diziam que havia melhores opções. Com 36 anos feitos em fevereiro, Luisão fez uma excelente temporada ao lado do jovem Lindelof e foi um dos mais utilizados. Ultrapassou os 500 jogos pelas águias. É o verdadeiro líder deste plantel «tetracampeão».

JONAS

Não foi só o Benfica que lamentou a sua ausência durante grande parte da época, foi o futebol português. O melhor jogador da última temporada teve uma grave lesão que o fez falhar 15 jogos. Jogou a Supertaça, não participou nos dois primeiros jogos e apareceu à 3ª ronda na Choupana. Depois só houve Jonas no final de dezembro como suplente utilizado. 2017 marcou o regresso «a sério» do brasileiro, em Guimarães e logo com golo. Daí para cá marcou 13 golos e ainda se fixou como o 10º jogador mais utilizado na Liga por Rui Vitória.
A qualidade é inegável, está toda lá como ou sem ritmo e marcou golos decisivos nesta caminhada rumo ao «tetra». Toda a gente tem na memória o «bis» ao Estoril, num jogo que parecia complicado, ou os dois golos ao Marítimo, no triunfo por 3-0. Com ele o Benfica cresce, melhora e tem mais ideias e posse no último terço. Antes tinha quebrado a malapata de não marcar aos rivais, batendo Casillas de penálti. Não teve o destaque de há um ano, mas veio bem a tempo de encantar e ser decisivo. Frente ao V. Guimarães marcou mais dois e um que foi uma obra de arte.

OUTRAS FIGURAS QUE MERECEM DISTINÇÃO

Estas foram as sete principais figuras do Benfica, mas há mais sete jogadores que merecem um destaque.

Fejsa é um «papa-títulos» e conquistou o seu décimo campeonato em nove anos, novamente numa época marcada por lesões. O sérvio começou e terminou a temporada em grande, como a base do meio-campo do Benfica, mas ali pelo meio esteve ausente e Samaris não conseguiu disfarçar a importância do companheiro. É um muro a defender, o tapa-buracos dos defesas e dá segurança às incursões de Grimaldo e Semedo. Fisicamente bem, é determinante.

Este ano, as alas do Benfica estiveram em constante revolução, sendo Salvio a única exceção. O argentino realizou 29 partidas, 26 como titular e mesmo sem o fulgor e a qualidade de outras épocas, olhámos para os números e... 4 golos e 6 assistências. Uma destas assistências foi das mais importantes do trajeto, em Vila do Conde. Saltou do banco para aos 75 minutos assistir Jiménez para o golo do triunfo. E se Rui Vitória sempre acreditou nele, também dificilmente lhe deu a «prenda» de cumprir 90 minutos: foi 18 vezes substituído (apenas oito jogos completos).

Quanto as alas, referência para Cervi. Foi o único reforço titular no jogo que deu o título e marcou, tal como foi ele que marcou o primeiro golo da época do Benfica. Começou fulgurante, apagou-se pelo meio, mas no final voltou a ser determinante.

Por falar em Jiménez, o mexicano merece uma distinção não por ter feito uma grande época, mas pela sua eficácia sempre que foi chamado. Fez 18 jogos, contudo apenas seis como titular e marcou em todos: Nacional (3ª jornada), Moreirense (11ª), Sporting (13ª), Estoril (14ª), Rio Ave (32ª) e V. Guimarães (33ª). Saindo do banco regista apenas mais um golo, de penálti, contra o V. Setúbal logo na 2ª ronda, evitando a derrota das águias.
No total deu 10 pontos aos encarnados, já que frente aos madeirenses, vitorianos e aos Cónegos, não marcou o golo decisivo.

Se Nélson Semedo, Luisão e Lindelof são figuras principais da conquista deste campeonato, Grimaldo também o seria, caso uma lesão não o tivesse afastado durante 5 meses da competição. O espanhol substituiu Eliseu, que era titular há dois anos, e deu outra acutilância e eficácia no ataque do Benfica pelo lado esquerdo. Em muitos jogos abriu defesas, a exemplo de Semedo do outro lado, e somou três assistências e dois golos, ambos antes da lesão. Para a Liga «desapareceu» em Belém à 8ª jornada e ressurgiu à 28ª em Moreira de Cónegos, apresentado-se logo a grande nível.

Nota para Lisandro López, que apesar da pouca utilização (7 jogos para a Liga), foi decisivo e contribuiu com 3 golos e uma assistência. Curiosamente, o argentino marcou dois dos golos na condição de suplente utilizado, sempre por lesão de Luisão. O primeiro foi na ronda inaugural com o Tondela e o depois marcou no Dragão, um golo fundamental no percurso. Pelo meio marcou em Arouca, no triunfo por 2-1.

Por fim, Gonçalo Guedes. O atacante trocou a Luz por Paris em janeiro, mas antes teve grande importância na manobra ofensiva e defensiva de Rui Vitória, já que foi o substituto de Jonas. Marcou apenas dois golos (Paços de Ferreira e Marítimo), só que a sua capacidade de trabalho, desmarcação, aproveitamento de espaços e pressing foram determinantes no «primeiro» Benfica da época e Rui Vitória sentiu a sua falta na sua transição de Guedes para Jonas. O «tetra» também é dele.