No fundo, nós gostamos é de ver a bandeira subir e os atletas de lágrima no olho. De quatro em quatro anos, preparamo-nos para isso.

Uns preparam-se desconfiando. «Não vamos lá, os nossos atletas são muito piores do que os outros».

Outros preparam-se confiando. «Com sorte, vais ver, ainda trazemos umas cinco medalhas».

Quanto algo falha, os primeiros soltam sonoros «estão a ver!?», agora ampliados pelo acesso às redes sociais. Os outros contra-atacam com «onde estavam vocês durante os quatro anos, quando nunca quiseram saber destes atletas?!».

Estou convencido de que apesar de a linha ser fina, ela existe e separa estas duas posições, tão portuguesas.

E é em cima dessa linha que se pode caminhar, escrevendo por exemplo um «desce» para Telma Monteiro. Assim como permitiria escrever um «sobe» caso a judoca portuguesa tivesse estado pelo menos à altura do ranking que levou para Londres.

Telma falhou e falhou de forma evidente. Sucede no desporto. Sucede até no futebol. Mas não deixa de ser um insucesso. Creio que podemos escrevê-lo sem ter de elaborar uma tese sobre as bolsas de apoio à alta competição, os locais para treinar e o destaque na comunicação social.

Até porque isso seria outra conversa. Caso não tenham reparado, dezenas de atletas de dezenas de países já ficaram de cara ao lado em Londres. Curiosamente, não poucos no judo. Faz parte.

Nós temos uma relação difícil com os Jogos Olímpicos. Porque temos uma relação difícil com o desporto. Mas isso seria outro texto, de resto pouco útil. Isto não vai lá com textos mas sim com ação. Mas para isso daria jeito ter, uma vez que fosse, um governo que não desejasse apenas aparecer na fotografia das medalhas. Quando há.