O pior Manchester United desde que há Premier League. O pior Manchester United dos últimos 23 anos. O pior Manchester United desde que o Liverpool ganhava títulos... Os rótulos abundam e a derrota clara dos «red devils» neste domingo, em Stamford Bridge, veio acentuar o tom das críticas a David Moyes. O técnico escocês, que neste verão assumiu a sucessão mais pesada do mundo do futebol, está transformado no saco de pancada dos adeptos ingleses, a começar pelos do seu próprio clube.

A verdade é que os números não ajudam: pela primeira vez desde 1990/91, o Manchester United chega a meio de janeiro fora dos três primeiros e, pior ainda, a 14 pontos da liderança. As sete derrotas sofridas em 22 jogos também não têm precedentes: o pior registo da era Alex Ferguson nos últimos dez anos foi precisamente de sete derrotas, mas em 38 jogos, na temporada 2009/10. 

Porém é, acima de tudo, o mau registo de Moyes no confronto com equipas de topo que sustenta a convicção generalizada de o escocês não tem argumentos para construir um Manchester United campeão. No décimo confronto direto com José Mourinho, o segundo desde que está em Old Trafford, Moyes continua sem vencer: somou a sexta derrota, e tem quatro empates como melhor desempenho.

Alargando a pesquisa, impressiona o registo negativo do técnico com os maiores clubes ingleses das últimas décadas: em 35 jogos com o Chelsea, três vitórias e 20 derrotas. Em 27 com o Liverpool, um saldo de 5-14. O saldo é de 4-18 com o Arsenal e de 3-15 quando tinha o Manchester United como adversário. Em resumo, de 2001 para cá, nos 114 jogos que já dirigiu contra os grandes, em 12 épocas no Everton e meia pelo Man. United, Moyes soma apenas 15 vitórias (13%) para 67 derrotas (59%). Com uma agravante, já que nenhuma das vitórias foi conseguida fora de portas: em 48 jogos como visitante na Premier League, diante destes clubes, Moyes soma 18 empates e 30 derrotas.

Talvez por isso, mesmo comentadores habitualmente ponderados como Gary Lineker não resistiram a dar uma bicada no técnico escocês:




Discreto, ainda assim. Porque bastaria uma passagem superficial nas redes sociais para nos depararmos com o lado mais venenoso do humor britânico. Afinal, «Ver o Manchester United por estes dias é como ver o arruaceiro da escola a trabalhar no McDonalds» como escrevia um dos muitos adeptos anónimos que usam as redes sociais para acertar contas com a era Ferguson.












É verdade que à medida que os mais resultados se acumulam, a presença constante de Alex Ferguson nas bancadas na ajuda. Sir Alex foi espectador atento em Stamford Bridge, e proporcionou instantâneos com tanta carga simbólica como este, capturado por um fotógrafo do Daily Mail:







Por tudo isto, Moyes é um homem cada vez mais só. Com a Liga dos Campeões como tábua de salvação para a temporada e um lugar final nos quatro primeiros como objetivo mínimo - e cada vez mais distante. Sem direito ao tempo que foi concedido ao seu antecessor, há 27 anos, porque o futebol mudou muito, e o Manchester United ainda mais. E sem direito à constação, evidente, de que o atual plantel - com alguns erros de casting pelo meio de que Fellaini parece o caso mais gritante - está muito longe das melhores equipas com que Ferguson pode contar nos anos de ouro. Uma realidade tornada ainda mais evidente com as baixas forçadas de Van Persie e Rooney, como o próprio Lineker sublinhou neste domingo: «É duro para qualquer equipa perder os dois melhores jogadores. Mas o Manchester United precisa de uma remodelação profunda. Há demasiados jogadores que não são suficientemente bons».

Neste cenário, de pouco adianta lembrar que, na chegada a Old Trafford, Alex Ferguson terminou a Liga de 1986/87 no 11º lugar. Depois foi 2º, para voltar a cair nos dois anos seguinte: 11º em 1989, 13º em 1990 e 6º em 1990/91. Em 1992 foi segundo, e a partir daí, durante 21 anos, nunca mais saiu dos três primeiros. Precisou de cinco anos para estabilizar a equipa, seis para a tornar campeã. E nunca mais ninguém se lembrou que nos primeiros anos também viu manchetes como esta: