Sulejmani entrou logo a seguir ao intervalo e foi colocar-se na esquerda do ataque do Benfica. Curiosamente, tinha sido por ali que a equipa de Jesus encontrara mais facilidades na primeira parte. O treinador achou que era possível explorar ainda melhor as debilidades do corredor adversário. Apenas três minutos depois, o sérvio entrou na área em velocidade, recebeu o passe de Rodrigo e fez o 3-2. O marcador fechou-se, o Benfica venceu. Sulejmani tinha marcado o golo 41 assinado ou construído por um suplente. No dia seguinte, no Estoril, Diogo Amado festejou o 42º, mas dessa vez foi apenas a confirmação da vantagem da equipa de Marco Silva, que regressou as vitórias em casa com um tranquilo 2-0.

Estes dois casos motivaram o
Maisfutebol para uma pesquisa um pouco mais funda para responder a esta pergunta: quantos golos da Liga nascem no banco?

Se tivermos em conta suplentes que assinaram assistências ou marcaram, o número foi revelado no primeiro parágrafo: em 13 jornadas, 42 golos. Ou seja, 16,4 por cento dos 256 golos marcados.

Se olharmos apenas para quem marcou,
esquecendo as assistências,
o valor baixa para 31. Ou seja, 12,1 por cento. Na época passada, contas finais, este valor andou pelos 10 por cento.

Se procurarmos golos que foram integralmente construídos no banco (assistência e remate vitorioso), o número reduz-se ainda mais: quatro. Por serem tão poucos, merecem referência. O primeiro apareceu na segunda jornada. O Benfica-Gil Vicente estava complicado e Jorge Jesus decidiu lançar primeiro Markovic, logo a seguir Djuricic e Sulejmani. Três sérvios. Os gilistas responderam com um golo, de Diogo Viana. A solução para os encarnados chegou perto do fim. Djuricic descobriu Markovic, 1-1. Dois suplentes. Por fim, Sulejmani, suplente, encontrou Lima. Alívio na Luz.

Markovic partilhou outro dos golos totalmente construídos por suplentes. Em condições bem menos angustiantes, em Coimbra, recebeu um passe de Ruben Amorim e finalizou com classe. Foi o 3-0 e só eles saberão se foi coisa combinada.

Os outros dois golos sonhados e finalizados por suplentes têm a assinatura de Candeias e Djaniny (vitória do Nacional no Restelo, jornada 3) e Paulo Sérgio e Roberto (vitória do Arouca sobre o Rio Ave, na terceira jornada, 1-0). Ou seja, valeu sempre três pontos.

Essa não é a regra absoluta, claro. Algumas vezes os suplentes marcaram e foi indiferente, a equipa perdeu na mesma. Mas, por norma, quem salta do banco e marca ou assiste acaba por ter um papel relevante na história. Faz sentido, os suplentes atuam quase sempre nos últimos períodos do jogo, quando se marcam mais golos e quando tudo se decide.

Os exemplos abundam.

Eis alguns, desta época.

Djuricic, Sulejmani e Markovic, na jornada 2, como já vimos. Antes, Héldon na vitória do Marítimo sobre o Benfica. Ou Quintero a impressionar pelo FC Porto, em Setúbal. André André a entrar e marcar pelo Vitória de Guimarães, em Vila do Conde, na jornada 4. Romário, do Arouca, na ronda 5. Barrientos, a entrar para assistir em duas jornadas consecutivas (vitórias sobre Marítimo e Paços de Ferreira). Mais recentemente, Slimani em Guimarães, numa vitória fundamental para a boa carreira do Sporting.

Na Liga portuguesa, Markovic é o suplente com mais golos. Além dos dois casos já referidos, não esquecer o dérbi em Alvalade. Foi ele que reempatou a partida. Depois desse enorme impacto inicial, o jovem sérvio passou o tempo entre a titularidade e enfermaria, lesionado. Perdeu-se um excelente desequilibrador a partir do banco, não se ganhou ainda um titular de grande fôlego. Praticamente o mesmo pode ser escrito sobre Quintero. Ajudou a resolver em Setúbal e em Arouca, assistiu Jackson para o 1-0 ao Paços de Ferreira. Tudo somado, nove jogos. Seis como suplente utilizado, três como titular substituído. E agora ausente.

Se pensarmos que um dos golos de Markovic teve escasso impacto e outro só valeu um empate, talvez seja justo colocar ao mesmo nível o ponta-de-lança argelino Slimani. O sportinguista entrou na segunda parte frente ao Marítimo, quando a equipa perdia. Empatou e ficou por ali a festejar o 3-2. De Guimarães já se falou.

Também Capel teve grande influência na goleada ao Arouca, logo na primeira jornada, com duas assistências.

Para um treinador, acertar a partir do banco é sempre algo muito valorizado pelos adeptos. Talvez por ser tão raro. A lista de golos de suplentes, por clube, é esta:

Estoril (4 golos de suplentes)
Balboa
João Pedro Galvão
Bruno Lopes
Diogo Amado

Benfica (4)
Markovic (3)
Sulejmani

Sporting (3)
Slimani (2)
Wilson Eduardo

Arouca (3)
Roberto (1)
Serginho (2)

FC Porto (2)
Quintero

Marítimo (2)
Fidelis
Danilo Dias

Nacional (2)
Djaniny
João Aurélio

Vitória de Guimarães (2)
André André
Marco Matias

Vitória de Setúbal (2)
Rafael Martins
Tiago Terroso

Rio Ave (1)
Del Valle

Belenenses (1)
João Pedro

Académica (1)
Marinho

Sp. Braga (1)
Custódio

Paços de Ferreira (1)
Manuel José

Olhanense (1)
Dionisi

Benfica e Estoril aparecem como as equipas que mais transformam o banco em golos. O Gil Vicente é o único que ainda não viu qualquer suplente marcar. A percentagem do Arouca é elevadíssima: dois oito golos, três foram conseguidos por jogadores que começaram os jogos ao lado de Pedro Emanuel.

Mais difícil, ver dois golos marcados por suplentes no mesmo jogo. Aconteceu apenas duas vezes. No Benfica-Gil Vicente, já referido, e no recente Paços de Ferreira-Estoril, golos de João Pedro Galvão e Bruno Lopes. Por sinal, ambos excelentes.

O caso de Sulejmani, foi por ele que começámos, foi também impressionante por ter demorado pouco tempo a materializar a sua influência. Mas não foi caso único e até já houve quem precisasse de menos tempo. Eis alguns exemplos: Quintero em Setúbal: entrou aos 60, marcou aos 61); André André em Vila do Conde (entrou aos 86, marcou aos 89); Custódio, no Sp. Braga-Belenenses (entrou aos 70, marcou quatro minutos depois); Quintero no Arouca-FC Porto e Pardo no Sp. Braga-Olhanense (entraram aos 90 e marcaram). E haveria mais exemplos. Ou seja, sempre que vir um suplente entrar, não vire as costas ao jogo. A influência pode ser quase imediata.

Claro que estamos a falar de exceções. Basta fazer uma conta relativamente simples. Se cada jogo tiver três suplentes utilizados estaremos a falar de 312 alterações produzidas por treinadores até agora. Dessas, como já vimos, só 40 tiveram influência direta no resultado. Claro que estes números são redutores. Afinal, os treinadores não mexem apenas para procurar o golo. Uma parte relevante das alterações visam apenas manter o resultado que já existe.

No entanto, a verdade é que dos dez jogadores que mais vezes entraram, apenas um não é avançado: Rafa Sousa, médio do Nacional da Madeira. Ficam os nomes e o impacto.

Serginho (Arouca): 11 vezes suplente utilizado, participação em 12 participações na Liga
Jogos que se alteraram depois da entrada do jogador e a equipa ganhou: 2
Jogos que se alteraram depois da entrada do jogador e a equipa empatou: 1
Jogos que se alteraram depois da entrada do jogador e a equipa perdeu: 4
Jogos que não se alteraram: 4

Marinho (Académica): 9 vezes suplente utilizado em 13 participações
Jogos que se alteraram e a equipa ganhou: 1
Jogos que se alteraram e a equipa empatou: 1
Jogos que se alteraram e a equipa perdeu: 3
Jogos que não se alteraram: 4

Del Valle (Rio Ave): 9 vezes suplente utilizado em 11 participçaões
Jogos que se alteraram e a equipa ganhou: 1
Jogos que se alteraram e a equipa empatou: 0
Jogos que se alteraram e a equipa perdeu: 4
Jogos que não se alteraram: 4

Nwankwo (Gil Vicente): 9 vezes suplente utilizado em 9 participações
Jogos que se alteraram e a equipa ganhou: 1
Jogos que se alteraram e a equipa empatou: 1
Jogos que se alteraram e a equipa perdeu: 2
Jogos que não se alteraram: 5

Slimani (Sporting): 9 vezes suplente utilizado em 9 participações
Jogos que se alteraram e a equipa ganhou: 5
Jogos que se alteraram e a equipa empatou: 0
Jogos que se alteraram e a equipa perdeu: 0
Jogos que não se alteraram: 4

Rafa Sousa (Nacional): 8 vezes suplente utilizado em 12 participações
Jogos que se alteraram e a equipa ganhou: 2
Jogos que se alteraram e a equipa empatou: 0
Jogos que se alteraram e a equipa perdeu: 0
Jogos que não se alteraram: 6

Javier Balboa (Estoril): 8 vezes suplente em 11 participações
Jogos que se alteraram e a equipa ganhou: 1
Jogos que se alteraram e a equipa empatou: 1
Jogos que se alteraram e a equipa perdeu: 3
Jogos que não se alteraram: 3

Sturgeon (Belenenses): 8 vezes suplente utilizado em 10 participações
Jogos que se alteraram e a equipa ganhou: 1
Jogos que se alteraram e a equipa empatou: 0
Jogos que se alteraram e a equipa perdeu: 3
Jogos que não se alteraram: 4

Danilo Dias (Marítimo): 7 vezes suplente utilizado em 9 participações
Jogos que se alteraram e a equipa ganhou: 2
Jogos que se alteraram e a equipa empatou: 1
Jogos que se alteraram e a equipa perdeu: 1
Jogos que não se alteraram: 3

Licá (FC Porto): 6 vezes suplente utilizado em 13 participações
Jogos que se alteraram e a equipa ganhou: 3
Jogos que se alteraram e a equipa empatou: 1
Jogos que se alteraram e a equipa perdeu: 0
Jogos que não se alteraram: 2

Como se pode por esta análise, nem todos os suplentes são de ouro e acertar na mudança certa não é tão fácil como pode aparecer a partir da bancada ou do sofá de casa.