O desfecho previsível do filme da Mata Real era uma vitória pacense. Como em qualquer película barata de suspense, todas as pistas deixadas no enredo deixavam antever um final assim. Mas, como quase sempre, há o já esperado «twist» final, como é óbvio. Esses momentos, em que o espectador se cobre de vergonha e começa a pensar como foi possível ser enganado, não são para todos. O Marítimo conseguiu ter arte para mudar o curso da história e garantiu um ponto na visita à Mata Real (1-1).

A equipa de Henrique Calisto buscava neste jogo o catalisador para uma segunda volta menos aflita. Oito pontos à 14ª jornada é pobre, claro. Para uma equipa com o estatuto na Liga que o Paços foi construindo ao longo dos anos recentes, era ainda pior.

FICHA DE JOGO

E mesmo que ainda falte muito campeonato, entrar em campo em busca de pontos com sofreguidão costuma tolher os movimentos. E é verdade que, nos primeiros minutos, a equipa da casa, e também o Marítimo, não mostrou sinais de querer jogar futebol. Pernas presas, passes errados, más decisões em dose industrial. Um espectador menos paciente e disposto a segundas oportunidades teria mudado canal.

Se esperasse mais um pouco veria Manuel José perder a primeira ocasião flagrante do jogo, na cara de Peçanha. Ou William ficar a centímetros de um desvio decisivo, logo a seguir. E talvez desse uma segunda oportunidade ao jogo. Não era um filme brilhante, mas servia para entreter na gélida noite da Mata Real.

William, o vilão

Até aqui pouco se falou do Marítimo. A verdade é que o futebol da equipa de Pedro Martins é quase sempre bem trabalhado. Lances ao primeiro toque, trocas constantes, numa geometria que cativa mas que, por vezes, se torna pouco prática. Esta noite foi assim. Aliás, os madeirenses só colheram frutos quando foram directos ao assunto. Porque o relógio apertava.

Menos bonito, mas muito mais prático, o Paços criou mais perigo. A equipa de Henrique Calisto praticamente não constrói jogo no miolo. Não mastiga, mas também não pensa. É uma equipa de transição, que tem em Manuel José e Melgarejo duas setas venenosas. William tenta ser o ponto de referência na área, mas o momento de forma já foi melhor. Como em todas as histórias do género, boas para uma noite de sexta-feira 13, há o vilão: William tentou tirar esse peso dos ombros perante a impaciência geral. Nem de penalty o conseguiu.

Destaques: Baba, vamos ter saudades

Voltando ao filme, perdão, ao jogo, no primeiro tempo, os madeirenses só assustaram num rasgo individual de Danilo Dias e num remate de Sami que quase traiu Cássio. Na segunda metade, o guardião pacense brilhou negando golos a Heldon e Baba, já com os castores na frente.

Agora o golo. Não foi o climax porque veio demasiado cedo na linha do tempo. O Paços dirá que veio na altura certa. Três minutos antes, William tinha desperdiçado um penalty indiscutível cometido pelo jovem João Diogo sobre Luisinho. Mas Melgarejo minimizou os estragos, com um remate colocado na cara de Peçanha. E com isso lançou o Paços para a vitória no jogo e a recuperação na Liga. Certo? Errado. Então e o «twist»?

Cinco minutos para os 90, com o Paços a parecer ter o jogo controlado. Canto de Danilo Dias, desvio de Baba ao primeiro poste. Golo. Sem floreados, com mais convicção do que arte. Empate. Balde de água fria em noite gélida. Noite de bruxas. Noite de azar para os castores que viram Vítor, por duas vezes, meter a bola na trave quando queria cruzar.

Depois o final. A verdade é que o Paços de Ferreira, que entrou para esta jornada com a lanterna vermelha na mão, mesmo que vencesse continuaria último. Mas, pelo menos, seria um último ligeiramente mais feliz.