P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos. 

Duas mochilas a fazer de baliza, na escola, ou então duas pedras nos jogos lá do bairro. A bola a desfazer-se nos ténis recém-comprados, que os pais avisaram que não eram para jogar à bola. Tardes inteiras a jogar «baliza a baliza», ou curtos mas intensos duelos nos intervalos da escola, com equipas formadas depois de um «par ou ímpar». O apito final decretado pelo segundo toque, ou então a avó que nos chama para jantar.

São lembranças do futebol de rua, agora trocado por consolas, iphones e chats. A muitos projetos de jogador falta essa escola, mas também há quem nos faça reviver esses tempos em que a maior preocupação era o torneio inter-turmas.

Renato Sanches, jogador que o Benfica descobriu no Águias da Musgueira há seis anos, leva essa rebeldia para o campo. Mas conciliada com a maturidade tática de quem está a ser moldado no «laboratório» do Seixal.

Aos 17 anos apresenta um perfil bastante completo, e pode ser utilizado como «10», «6» ou até médio-ala, mas a combinação de atributos parece encaixar melhor na posição «8». A comparação com Manuel Fernandes encaixa sobretudo na habilidade para «esconder» a bola, mas é associado também a Enzo Pérez, a sua referência na equipa principal, a quem se assemelha na capacidade para avançar com a bola controlada pelo corredor central. Solta-se da marcação facilmente, com uma gama de recursos técnicos ampla, notória também no último passe. Mas no plano defensivo é também influente, revelando agressividade e boa capacidade para recuperar bolas.

Na época passada estreou-se pela equipa de juniores poucos dias depois de cumprir 16 anos, embora só esta temporada tenha formalmente transitado para a equipa de sub-19. Mas a tendência para «queimar etapas» parece manter-se, e no passado fim-de-semana estreou-se pela equipa B, em Santa Maria da Feira.

Isto depois de ter somado dois golos e seis assistências em sete jogos pela equipa de juniores, incluindo os dois passes para os golos da vitória em Alcochete, sobre o rival Sporting (0-2), e os passes para os golos da vitória em Leverkusen, para a Youth League (2-3).

Se a confiança que exibe em campo não se tornar excessiva, se a fama que vai conquistando não lhe subir à cabeça, Renato Sanches tem tudo para se tornar um médio de grande dimensão no futebol português.