[foto: odd.no]

P.S. (Para Seguir) é um espaço assinado pelo jornalista Nuno Travassos, que pretende destacar jogadores até aos 21 anos.   

Rafik Zekhnini saltou para a ribalta a 20 de agosto de 2015, quando o Odd recebeu o Borussia Dortmund para a primeira mão do playoff da Liga Europa, em jogo dirigido pelo português Jorge Sousa. Logo na primeira jogada o extremo de apenas 17 anos recebeu a bola junto à área, rodou sobre Gonzalo Castro e cruzou direitinho para o mergulho eficaz de Samuelsen, ao primeiro poste. Estavam cumpridos 13 segundos de jogo.

Gonzalo Castro foi substituído ao intervalo, tais as dificuldades por que passou, e o Dortmund esteve a perder três a zero. A equipa alemã reduziu a diferença ainda na primeira parte e na etapa complementar deu a volta ao marcador, mas no final do jogo só se falava de Zekhnini.

«O Odd tem bons jogadores. Não sei o nome deles, mas o extremo direito e o extremo esquerdo são bons. O extremo esquerdo é muito rápido, um belíssimo jogador», disse Matts Hümmels na zona mista. O central alemão já tinha virado costas, rumo ao autocarro, quando um jornalista lhe pergunta se sabia que Zekhnini tinha apenas 17 anos. «A sério?! Ele só tem mesmo 17 anos», devolveu Hümmels de boca aberta, antes de soltar uma asneira para reforçar a incredibilidade.

O mediatismo acabou por mexer com o Zekhnini, a ponto de o treinador Dag-Eilev Fagermo o ter «encostado» um mês depois, dizendo que o extremo estava «mais preocupado em ser estrela de TV do que jogador de futebol». Uma medida que contou com o apoio do pai do jogador – um imigrante que há 25 anos trocou Marrocos pela Noruega -, que logo após a exibição frente ao Dortmund tinha defendido que o filho devia continuar mais algum tempo no Odd e manter os pés no chão.

Zekhnini terminou a edição 2015 da Liga norueguesa (que vai de março a novembro) com 13 jogos realizados e dois golos marcados. Na presente temporada foi titular nos quatro jogos já disputados pelo Odd, e no passado domingo esteve nos dois golos da vitória no reduto do Viking (0-2): assistiu o primeiro, numa jogada de insistência, e apontou o segundo, numa arrancada iniciada a meio-campo.

Dois lances representativos do potencial deste extremo, que entretanto já comemorou o 18º aniversário. Um jogador difícil de travar quando acelera com a bola controlada, mas pouco dado a correrias sem nexo. Por vezes fica até a ideia que encara as jogadas de forma sobranceira, mas depois saca um truque da sua vasta gama de recursos e tira o adversário do caminho.

Ainda pode crescer muito no capítulo da decisão, sobretudo quando se trata de finalizar, mas se não se deslumbrar tem condições para ser uma figura importante no futebol norueguês (juntamente com Odegaard, do Real Madrid).

Simpatizante do Manchester United, Zekhnini já assumiu que Cristiano Ronaldo é o jogador preferido (no dia da assinatura de contrato com o emprésario Jim Solbakken até tinha uma tshirt CR7). 

Ao vê-lo jogar não é difícil recordar os primeiros jogos do português no Sporting -  alto e resistente, mas ao mesmo tempo seco e veloz, para além de extremamente habilidoso com os dois pés – mas o capitão da Seleção Nacional deve funcionar sobretudo como referência de profissionalismo, de compromisso e de capacidade de trabalho, sem que o peso da comparação desvie Zekhnini do rumo certo.