2011, setembro. Pelé dá uma entrevista ao Maisfutebol, fala da transferência para o AC Milan e do seu «verão perfeito».

Quatro anos depois, o reencontro entre o nosso jornal e o médio. Na Mata Real. Manhã quente de novembro, muito sol, conversa longa após um treino de intensidade máxima e muito futebol.

Tempo, pois, para recordar palavras passadas e a passagem por San Siro e o AC Milan. Com muitas histórias, claro.

Pelé ficou uma temporada em Itália, passando depois por sucessivos empréstimos: Arsenal Kiev, Olhanense e Belenenses. No verão passado assinou pelo Benfica, mas não ficou no plantel de Rui Vitória.

No Paços de Ferreira já soma dez jogos oficiais e dois golos. Um deles deu o empate em Alvalade.


Como é que soube que o AC Milan o queria contratar?
«É uma história longa. Acabou o Mundial Sub20, fui de férias e recebi um telefonema do Rui Jorge, selecionador dos Sub21. Perguntou-me como é que estava, se podia ir aos Sub21 e eu disse logo que estava disponível, claro. Fomos fazer um jogo fora do país e fiquei no banco, mas entrei bem, cheio de vontade. No regresso ao hotel, os meus colegas começaram todos a perguntar-me ‘vais para o Milan, vais para o Milan ?´».

Mas nessa altura ainda não sabia?
«Não, zero. Tive de telefonar ao meu empresário e perguntei-lhe. Ele disse-me que eu ia para um clube, mas que não sabia se era o Milan. Passados alguns minutos, lá me deu a notícia e confirmou-me. Eu nem sabia como reagir. Ia para um clube que sempre admirei. Foi uma experiência fantástica».

Conheceu algumas figuras históricas do Milan?
«Cheguei a ver o Paolo Maldini e o Franco Baresi. O Maldini ia lá muitas vezes porque o filho jogava nos escalões jovens. O Baresi só vi numa festa do clube».

Treinou muitas vezes com o plantel principal?
«Sim, muitas. Era um plantel de luxo: Seedorf, Pato, Thiago Silva, Robinho… O treinador era o Massimiliano Allegri, que está agora na Juventus. Senti que tinha qualidade para estar lá, mas era muito jovem e perdi-me um bocado».

O que se passou?
«Às vezes ia para o treino e nem uma bola conseguia dominar. Estava sempre a pensar na minha família, na comida da minha mãe, nos amigos… tive muitas saudades e reagi mal, só me apetecia chorar. Vivia sozinho, foi complicado. A parte social é fundamental, é importante ter alguém com quem desabafar. Valeu-me a amizade do Ricardo Ferreira, o central do Sp. Braga. Até hoje somos como família. Sempre achei que ele tinha grande qualidade. Passada larga, excelente no passe… superou um problema que tinha numa coxa e está ótimo».


«Por azar, no momento em que eu estava a melhorar, parti o quinto metatarso e fui-me abaixo. Fiquei abatido e desmotivado».

Os dirigentes e os técnicos do Milan falavam consigo?
«Sim, diziam que eu tinha muita qualidade, mas que era preguiçoso, desleixado. Eu sei que não jogava o que sei por andar triste. Por causa disso fui emprestado, não continuei».